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Leigos Missionários Combonianos

Servindo a Missão ao estilo de S. Daniel Comboni

Leigos Missionários Combonianos

Servindo a Missão ao estilo de S. Daniel Comboni

UM SEGUNDO PAI PARA AMY

Amy e irmãos

 

"O Roger, como bom catequista,

tem sido um exemplo de disponibilidade

ao serviço dos mais pobres..."

 

Amy Orly chegou-nos ao colo de Roger, com 7 meses e apenas 5.100Kgs de peso. Orfã, a mãe havia morrido há cerca de um mês. O pai por qualquer razão desconhecida tinha partido para a floresta com um outro filho de 5 anos deixando a bebé ao cuidado da irmã de 10 anos.

 

Roger é um jovem catequista, casado e com filhos, na altura trabalhava como animador num projeto de Segurança Alimentar da Caritas / CRS, trabalho esse que consistia em sensibilizar, orientar e supervisionar quem estivesse interessado em cultivar uma parcela de terra e a quem eram dadas sementes e utensílios agrícolas. Numa das suas visitas de supervisão, num acampamento afastado, perdido na floresta, apresentaram-lhe o caso da pequenita que estava sempre a chorar e ninguém sabia o que fazer. Ao Roger foi fácil perceber que o problema da menina era fome...

 

Telefonou-me a explicar a situação e pedir apoio, pois teria de fazer cerca de 30Kms a pé e não se arriscava a ir a Mongoumba sem ter a certeza que recebíamos a criança. Verdade seja dita que não entendi quase nada ao telefone, mas disse-lhe que sim. Quando chegaram levantou-se um outro problema, quem cuidaria da menina, pois a irmã, nos seus 10 anos mostrava-se muito imatura para o fazer sem o apoio próximo de um adulto.

 

Amy e Roger (1)

 

 

Após termos discutido o assunto em comunidade apostólica ficou decidido que as duas orfãs ficariam numa das casas dos pobres junto com uma mamã, viúva, com 4 filhos, que tinha vindo, também com o Roger para tratar uma lesão num seio. O Roger ficou até as crianças estarem instaladas tendo regressado a sua aldeia com a incumbência ir ao acampamento, contactar o pai e traze-lo a Mongoumba, o que fez estando de novo na Missão uma semana mais tarde.

 

O pai da Amy passados alguns dias pediu para ir a casa para as cerimónias fúnebres da mulher (retirar do luto) prometendo regressar. Como a menina estava a comer bem e a recuperar peso concordamos em deixa-los partir.

 

Partiram com uma pequena quantidade de produtos alimentares que bem administrados davam para um mês, mas no presente caso temíamos que apenas dessem para uma semana, iam fazer festa no acampamento e a pequena Amy voltaria a chorar com fome!

 

Tive noticias da Amy quase dois meses depois quando o padre Samuel, numa das suas deslocações pastorais pelas capelas mais afastadas, a encontrou, mais magra e com febre, tendo recomendado ao pai que fosse com ela à Missão, o mais rápido possível. Chegaram duas semanas mais tarde porque o Roger os foi procurar! Veio a família,o pai, a irmã e o irmão! Ficaram alojados no Centro de Reabilitação. No 2º dia a Amy já tinha aumentado de peso e passadas 3 semanas estavam de volta a casa, desta vez não foram a pé, fui com o Samuel deixa-los próximo do acampamento, mais de uma hora de carro!

Como já passou mais de um mês e não voltaram, é tempo de fazer comissão ao “papá” Roger para os ir procurar! A Amy está nas mãos de Deus e como ela tantas crianças orfãs neste país, não são abandonadas apenas são negligenciadas por desconhecimento, quando falta o leite da mãe, os bebés comem quando comem os adultos, isto é uma vez por dia, mesmo os mais pequenos.

 

Amy e eu2

 

O Roger, como bom catequista, tem sido um exemplo de disponibilidade ao serviço dos mais pobres, que o Senhor o ajude e proteja.

 

 

Élia Gomes LMC em Mongoumba, RCA

Obrigada Pe. Aurélio!

 

PADRE_~1

 

 

Acarinhou-os, mimou-os e ensinou-lhes a rezar!

Bem haja padre Aurélio!

 

A Elisa é uma jovem de 16 anos, aproximadamente, que ainda gosta de se divertir como os mais pequenos. No momento o divertimento das crianças Aka no interior da floresta é montarem sobre os troncos das árvores que são arrastados pelas máquinas da serração, mas os troncos não são estáveis, rolam e a Elisa teve o azar de ficar com um pé esmagado debaixo do tronco em que se fazia transportar.

 

1-Elisa com o pai

 

Tive conhecimento do acidente logo no primeiro dia, quando vieram à missão pedir os medicamentos, mas não tive noção da gravidade, fiquei com a ideia que era uma ferida simples. No segundo dia quando apresentaram nova receita fiquei alerta, mas ainda não ao ponto de procurar saber mais. Dois dias mais tarde quando fui visitar a doente e pedi para ver a ferida constatei que era preciso amputar, pelo menos os dedos do pé, o que não é possível fazer em Mongoumba só em Bangui. Como o chefe do Centro de Saúde era da mesma opinião, ficou acordado que ele falaria com a família sobre a necessidade de transferir a jovem para um hospital da capital. E passaram mais dois dias!

 

Uma semana após o acidente, no nosso carro “todo o serviço”  a Elisa chega a Bangui, referenciada ao hospital Comunitário, onde nos dirigimos e onde nos dizem que não recebem jovens de 16 anos que devemos ir ao Pediátrico...

 

2-Elisa em Bangui

 

E lá vamos nós... No Pediátrico o chefe de equipa, um cirurgião italiano da ONG Emergency, começa por dizer que lamenta, mas só recebem até aos 15 anos. Já me via de novo a regressar ao Comunitário quando ele me diz, em português, que apesar de terem o serviço cheio era fácil  inscrever a Elisa com a idade de 15 anos. Que sorte, alguém lhe havia dito que eu era portuguesa.

 

3-Elisa  hospital

 

No dia seguinte a jovem foi operada tendo perdido apenas metade do pé, menos grave do que o médico pensava. Eu tinha de regressar a Mongoumba, a tomar conta da Elisa ia ficar o pai, mas precisava de alguém que os fosse visitar, saber a evolução e dar apoio, não todos os dias, mas algumas vezes por semana. Em casa, falei com o padre Aurélio que logo se disponibilizou para o fazer e fez muito mais do que lhe pedi! No hospital visitou-os todos os dias e quando tiveram de sair (a Elisa ficou 3 semanas a ser seguida em ambulatório) foi ele quem procurou um sitio onde ficassem alojados e foi ele quem levou a Elisa ao hospital para fazer o penso. Acarinhou-os, mimou-os e ensinou-lhes a rezar! Bem haja padre Aurélio!

 

De regresso a Mongoumba e em breve ao seu acampamento, esperemos que a Elisa seja um exemplo para que outras crianças não sofram acidentes semelhantes ou mais graves.  

 

Desde a RCA com o Projeto Zo Kwe ZO

Um abraço

 

Por: Élia Gomes, LMC na Républica Centro Africana