2ª Encontro da FEC - Voluntariado e Cooperação para o Desenvolvimento
Foi no passado fim de semana, 11 e 12 de fevereiro, que decorreu a 2ª sessão de formação da FEC – Fundação Fé e Cooperação – subordinada ao tema Voluntariado e Cooperação para o Desenvolvimento, desta vez em Fátima. Toda a formação foi levada a cabo por La Salete Coelho, Investigadora e técnica de projetos de Educação para o Desenvolvimento, membro da FEC e que, por sinal, já tem páginas de vida marcadas como professora em missões de longa duração em Moçambique e Guiné-Bissau. Uma verdadeira frescura de pessoa, muito cheia de vivacidade e energia!
A formação começou com uma dinâmica em grupos que permitia a consciencialização para as desigualdades no Mundo, fazendo-nos refletir sobre os desequilíbrios que existem em termos de densidade populacional vs necessidades sociais (acesso à saúde, educação, financeiras, alimentares, etc.). Até aqui nada de novo! Esta era uma dinâmica por nós já conhecida com uma realidade retratada para a qual já estávamos sensibilizadas – tanto eu como a Cristina que participámos nesta formação.
Seguiu-se alguma teoria sobre as visões de desenvolvimento e subdesenvolvimento e conceções de Educação para o Desenvolvimento que foram sofrendo modificações ao longo dos anos. Esta viagem nos tempos foi importante para nos consciencializar de todo o caminho que foi feito até aqui, das mudanças de paradigma que foram ocorrendo ao longo dos tempos em relação à noção de desenvolvimento, ao ponto de, atualmente, o conceito de “Desenvolvimento sustentável” ser questionado como solução para alguns dos problemas do mundo; ao ponto de hoje surgirem “Teorias para alternativas ao Desenvolvimento”. E é nestas teorias que surgem conceitos como o FIB – Felicidade Interna Bruta -, um conceito interessante que vos convido a descobrir no seguinte vídeo https://www.youtube.com/watch?v=C0AKr3zvkHc. Nesta contextualização da dimensão das coisas, apercebi-me da importância da Educação para o Desenvolvimento, da tomada de consciência da realidade das diferentes culturas, da sua história e do respeito e, mais que isso, AMOR pela diferença. E a importância que sinto nesta Educação não é somente no sentido do desenvolvimento/desenvolver o mundo, mas também no sentido de ver mais além… em última instância, de me colocar na pele da pessoa da outra cultura, de a olhar como irmão, como ser humano que habita o mesmo planeta que eu e cuja missão é a mesma que a minha: a de concretizar um plano de Felicidade concedido por Deus. E aqui sinto residir a importância da Educação para a Cidadania Global, para o Desenvolvimento. A páginas tantas, La Salete falou-nos sobre o modo como África foi dividida em tempos, segundo interesses de países Europeus, esquecendo algo tão rico como a cultura de povos. Divisões a régua e esquadro. Falou do “mapa cor-de-rosa”, sinceramente, algo sobre o qual nunca tinha ouvido falar. Ignorância minha, ou não, e apesar de fazer parte do passado, sinto que foi um momento na história que ainda se encontra bastante vivo e que poderá, por ventura, justificar tantas revoltas, tanta coisa. E isto é importante – conhecer, saber disto é importante. É a história deles. É a nossa história também.
E nesta história toda do Desenvolvimento, La Salete expôs a opinião de Dambisa Moyo, uma economista Zambiana que publicou o livro Dead Aid (“Ajuda morta”), apelando a que se terminem as ações de Cooperação e de Desenvolvimento com África pois estas estão a estragar o continente. Apercebo-me da polémica social que é criada em redor deste tema e o quanto de verdade podem ter as palavras da economista. E aqui reforço, sublinho, a importância que La Salete atribuiu ao DAR VOZ quando se contacta com outras culturas: nem a perspetiva neste contacto se deve reduzir a questões de desenvolvimento, nem a mentalidade deve residir no “ajudar o outro”. Tudo muda se a perspetiva for a de PARTILHAR A VIDA, com tudo o que isso envolve: seja na escuta da cultura em questão, no conhecimento da história e raízes da mesma, seja no dar o conhecimento sobre a nossa forma de viver em Cristo (que não é melhor, nem pior que a deles – é somente a nossa forma de viver).
“Partilhar “mundos”, imergir numa cultura, sem preconceitos; ter tempo, investigar e voltar a ter tempo para estar com o “outro”, é o que permite dialogar em paridade, mas sem falsos inculturamentos fast food. (…) Uma boa intervenção é feita com “os do território”, sem actores individuais ou institucionais. E nós? Levamos o que mais temos – dúvidas! O que já é muito bom!”
Miguel Filipe Silva, in Orelhas Equipadas com Radar, coordenador Executivo da ONGd de Estudos Africanos da UP
Ao fim da tarde do dia 11 tivemos a oportunidade de ver o filme “Shooting Dogs”, um filme que retrata o genocídio em 1994, em Ruanda, e os conflitos entre tutsis e hutus. E após o filme houve um espaço para discussão e partilha sobre o mesmo, sobre cada uma das personagens e o retrato que cada uma delas dá das diferentes pessoas envolvidas – ONU, militares, Igreja, Governo. E sim, vale mesmo a pena ver o filme!
Durante a formação tivemos ainda o testemunho de Adriana Rente que aos 60 anos partiu em missão em Timor Leste por 2 meses com a Associação por Timor.
A formação terminou com a abordagem ao Ciclo do projeto, às fases inerentes à construção do mesmo. E deparo-me com uma quantidade de etapas e etapazinhas, burocracias e papeladas, análises e planificações que, efetivamente, na construção de um projeto, serão fundamentais. Contudo, sinto terem o risco de caírem por terra se, como marca d’água, não existir algo maior. E de facto, mais uma vez emerge o meu sentimento de que esta marca d’água a encontro aqui, no seio da nossa família Comboniana. Terminada a formação, é de brilho nos olhos que enxergo a família Comboniana com uma realidade um tanto ou quanto diferente (e, claro, sou suspeita a afirmar isto): talvez para nós seja importante também o desenvolvimento e projetos concretos… mas o foco está num PROJETO MAIOR, num PLANO DE DEUS, num sonho de SÃO DANIEL COMBONI, o de partilhar a vida, o de acolher cada pessoa que surge no nosso caminho de missão, o de SALVAR ÁFRICA COM ÁFRICA.
Por: Carolina Fiúza