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Leigos Missionários Combonianos

Servindo a Missão ao estilo de S. Daniel Comboni

Leigos Missionários Combonianos

Servindo a Missão ao estilo de S. Daniel Comboni

Que Estrela os guiou até nós?

Dia de Reis. Ontem o celebrámos este dia no qual 3 Reis Magos viajaram de diferentes partes, guiados por uma Estrela, para visitar em Ação de Graças o Menino que acabara de nascer, trazendo no regaço presentes para o Adorar. É sobre estes Reis, esta Estrela e estes Presentes que nos escreve a LMC Rufina Garcia que há vários anos se dedica ao acolhimento de emigrantes e refugiados ilegais em Portugal. Que Magos, que estrelas e que presentes nos chegam até nós, hoje, neste dia de Reis?

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Queridos LMC

Porque hoje é Dia de Reis e não só...
 
Que Estrela os guiou até nós?
 
A proximidade com o dia de Reis e, ou, talvez não, leva-me a reflectir um pouco, e, segundo a tradição cristã, naquele dia em que Jesus Cristo, recém nascido, recebeu a visita de alguns Magos, guiados por uma estrela.
E o primeiro pensamento, perante a origem destes Magos, permite, desde logo, perceber como, desde sempre, Jesus, na sua Infinita Bondade, tinha presente todos os povos, aliás, quase ousando perguntar, quem são e/ou o que simbolizam estes Magos, se não, o reconhecimento de Jesus por todos os povos do Mundo e a Luz que a todos deve iluminar?
Mas, falando destes Reis Magos, como foram designados, no séc. III, os presentes que traziam consigo, o incenso, o ouro e a mirra, e, independentemente do uso e das pessoas a quem se destinavam, mais uma vez, a diversidade surge, não como um factor de separação, embora me pareça importante referir, que, no ritual da antiguidade, o ouro era o presente digno de um rei, e, ainda, como é importante, perceber como estes presentes eram elementos agregadores e em nada diminuíram a beleza da simbologia do Evangelista Marcos sobre a narração do Nascimento de Jesus Cristo.
E, se no Natal, o Presépio, o nosso presépio, hoje, representado de mil formas, continua a fazer cada vez mais memória de uma Família que desesperadamente procurava abrigo para Eles e para o Filho que havia de nascer.
Passados, tantos, tantos anos, igualmente, num momento em que Refugiados e Migrantes, caminham, só Deus sabe como e para onde, também à procura de abrigo, deixo a pergunta: que Magos são estes que chegaram e continuam a chegar até nós, como se o Natal fosse todos os dias, e que estrela os guiou ou continua a guiar e que presentes/dores trazem consigo?
Não sei se alguma vez tivemos tempo para nos debruçarmos sobre este fenómeno, inclusive, se essa agitação humana e diária conseguiu em algum momento deixar-nos comodamente, meio anestesiados e indiferentes, até, perante um cenário mundial que a todos deveria envergonhar, e isto, porque somos responsáveis uns pelos outros, e, sem demora, deveríamos encontrar a forma certa de Cuidar uns dos outros e de proporcionarmos aquele bem estar a que todos temos direito e que deveria ser capaz de quebrar os ambientes mais gélidos, pois calor, seja em que circunstância for, é e será sempre sinal de Vida.

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Normalmente, ouvimos falar destes problemas e associamo-los a países distantes, gente muito diferente de nós, quantas vezes teremos até a tentação de nos considerarmos superiores a toda essa gente, que, para nós não tem nome, quase não tem rosto e, principalmente, gente em quem tão pouco conseguimos ver pessoas, e, mais difícil ainda, perceber e descobrir, que tal como nós, têm um nome, um rosto, uma família, um país, e, que as suas vidas, a sua história nos deveriam merecer o maior respeito.

Sim, que estrela os trouxe e continua a trazer até nós e que presentes carregam?
Claro, que não trazem nem ouro, nem incenso, nem mirra.
São Pessoas que trazem desenhadas no rosto as situações e os problemas mais inimagináveis e em que o seu olhar espelha um grito impressionante de ajuda, que nos diz que a estrela que os terá guiado, chama-se Esperança e que a Luz que esperam encontrar, passará, seguramente, por cada um de nós.

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Então, que todos nós saibamos Acolher essas estrelas de mil cores que hoje e cada vez mais caminham pelo Mundo, de uma forma tão injusta, desumana, insegura, movida por tantos interesses que assustam e que não percebemos.

E que neste Novo Ano, todos nós possamos entender que essas Pessoas são Estrelas com um brilho único, fazem parte do Universo que somos cada um de nós e que, também elas, são um pouco do brilho que, também, nós próprios, precisamos, de forma a que, hoje e sempre, saibamos ser essa Luz de Esperança, que brilha sem cessar, capaz de Cuidar e de Amar todos, como Pessoas!
 
LMC, Rufina Garcia

Do Pedro Nascimento, um Magnificat e muito mais.

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Queridos amigos e amigas,

Agora mais perto de vós, desde a minha santa terra, Ervedal, no Alentejo.

O tempo de quarentena foi um tempo especial, de descanso, oração, de paragem para reflectir sobre a missão e preparação para este tempo em Portugal.

A casa onde fiquei a fazer a quarentena, casa com todas as condições, por 19 dias, foi cedida totalmente grátis pelo ser missão de alguém que o sente de fazer por inspiração de Nossa Senhora de Fátima.

E os alimentos para esses dias também foram cedidos, principalmente por duas famílias, igualmente generosas no seu ser missionárias.

Com a graça de Deus, também tive quem se disponibilizasse com transporte para tudo.

Mesmo em quarentena ainda fui mimado com várias visitas que me ajudaram imenso.

Depois de feito o teste à Covid-19, de saber o resultado, negativo, foi tempo de agradecer a Deus Pai e à Nossa Mãe e, depois, viajar para casa e estar com a família.

Entretanto, a mãe foi chamada para realizar uma cirurgia à bexiga, o que já aconteceu e correu bem, graças a Deus e à oração e comunhão de tanta gente. Agora continuarei uns dias por casa, estando com a família.

Espero voltar à Etiópia em Setembro, por mais alguns meses entre o povo Gumuz de quem muito gosto.

Agradeço todas as perguntas que me foram feitas e irei responder pessoalmente a cada um e uma de vós. Para além disso, iremos realizar alguns pequenos vídeos inspirados nessas perguntas para que possa partilhar a experiência missionária com todos aqueles que o desejem.

Antes disso, já preparámos um pequeno vídeo com algumas fotos sobre a missão na Etiópia e que podem visualizar aqui https://youtu.be/EXNECqSlWNg.

No vídeo, algumas fotos são sobre o trabalho que realizamos, como o trabalho na biblioteca, as visitas às comunidades e acompanhamento de catequistas, e as actividades com as crianças.

Alguns de vós têm perguntado como poderiam ajudar a missão na Etiópia. Actualmente, das várias actividades, existem dois projectos que carecem de ajuda económica: a biblioteca e os doentes.

A biblioteca continuará com as suas actividades: sala de estudo e consulta de livros, aulas de inglês e de informática. Para isso, precisamos de fundos para continuar a comprar livros e material escolar para serem usados na biblioteca e, por outro lado, a contratação de alguém que possa ser formado e continuar na biblioteca mesmo quando já não estejamos na missão, dando assim continuidade ao projecto.

O projecto dos doentes consiste no acompanhamento das pessoas doentes nas aldeias que visitamos: transportar e acompanhar os adultos e crianças. As distâncias são longas, ao centro de saúde ou a um pequeno hospital gerido pelas Irmãs Combonianas, com bom tratamento e preços acessíveis às pessoas. Por vezes, pagamos a medicação das pessoas que não têm possibilidade de o fazer. Tudo isto significa gastos com a gasolina, taxas dos exames médicos, medicamentos e, por vezes, comida para os que pernoitam no recinto da nossa casa.

Assim os que quiserem contribuírem poderão fazê-lo para a Conta dos Leigos Missionários Combonianos (LMC) que é a seguinte: PT50 0036 0131 9910 0030 1166 0 (Banco Montepio).

Pedia por favor, que enviassem um e-mail a referir o destino do dinheiro para o e-mail dos LMC com o conhecimento da ecónoma dos LMC, Sandra Fagundes.

A vossa ajuda sempre foi e é importante. A missão faz-se em Igreja, com os que vão e com os que ficam, sempre todos em comunhão. A alegria da missão e do Evangelho não é exclusiva de uns mas de todos nós que pertencemos à Igreja! Tu és Missão!

A ajuda mais preciosa será sempre a vossa oração. Essa oração silenciosa mas profunda que tenho sentido na minha vida missionária e que muito agradeço.

Termino com o Magnificat que escrevi, em Portugal, durante o tempo de quarentena, sobre o tempo vivido na Etiópia:

A minha alma glorifica-Te, Senhor, por tudo o que me permitiste viver na Etiópia.

Glorifico-Te, Deus Santo, por tantos rostos que agora habitam no meu coração.

Louvo-Te, Senhor, pela Tua Palavra que tantas e tantas vezes iluminou a minha vida.

Regozijo-me com tantos sinais da Tua presença no meio daquele povo lindo que amo e tanto bem lhes quero.

Quero dar-Te graças, Jesus, por me teres permitido viver o Teu Amor no meio de tantas pessoas, na biblioteca, nas aulas de inglês e de informática, nos jogos de futebol, nas visitas às comunidades, nos encontros de catequistas, nas visitas às famílias, nas idas aos centros de saúde.

As cruzes não faltaram, o desalento, a dor, as lágrimas… Mas onde abundou a minha fragilidade humana e espiritual, superabundaram a Tua Graça e o Teu Amor que sempre senti no meu íntimo.

Agradeço-Te imenso as dificuldades da língua, compreensão da cultura, clima, doenças, que me obrigaram a ser pequeno junto deste povo lindo.

O dom da pequenez ajudou-me a necessitar de ajuda, a ser humilde, a parar para contemplar, a querer aprender…

Obrigado por me ajudares a ser pequeno. Quanto mais pequeno, mais necessitei de Ti, do Teu Amor, do colo terno de Tua Mãe, do Vosso olhar sobre mim.

O meu coração exulta de alegria sempre que penso na Etiópia.

Meu bom Deus, quero cantar as maravilhas da Missão, dizer como os Apóstolos no momento da Transfiguração: como é bom estar aqui, anunciar o Teu Amor e, se necessário, sofrer por Ti.

Pedro

A Vida Continua

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Encontro-me diante do Senhor, em adoração eucarística e recordo-me de vós. Coloco-vos na minha oração: familiares, amigos e amigas, benfeitores, todas as pessoas que continuamente continuam a interessar-se por mim e pela missão na Etiópia.

Quando estou mais distante, a oração torna-se ainda mais importante. Porque acredito em Deus, sei que rezar não é um tempo perdido, mas um tempo ganho, de diálogo com quem me escuta e me fala. E, por isso, a oração torna-se tão importante. Coloco-vos no coração de Deus, peço por vós, pelo nosso Portugal e todo o mundo fustigado pelo Covid-19, pelos nossos cristãos, aqui, todos os Gumuz e por toda a Etiópia. Rezar faz-me sentir mais perto de todos os que amo.

O Covid-19 começa a dar sinais na Etiópia, as pessoas começam a falar mais e sente-se muitas vezes receio pelo futuro. Mas a vida não pára, não pode parar. Há campos para cultivar, casas para arranjar, comida para preparar e muitas bocas para alimentar, ainda que seja uma refeição diária.

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O Covid-19 parou as nossas actividades, parou todas as escolas, o funcionamento da biblioteca, as aulas de inglês e de informática, parou as nossas actividades com as crianças, as celebrações dominicais com os nossos cristãos. Porém, a vida não pára.

O Covid-19 fechou-nos em casa mas a vida não parou. E, por isso, quando decidimos visitar os nossos amigos refugiados, já lá não estavam. Tinham sido mudados para as suas aldeias de origem no dia anterior. Mudados para os locais onde sofreram e que receiam mas, por causa do Covid-19, não devem estar todos juntos na escola que os albergava. O local onde viviam está silencioso, as casas vazias, a escola habitada por soldados … E os nossos amigos? E as crianças com quem brincávamos? Foram-se! E não foi apenas o espaço que ficou vazio. Também eu o fico: vazio de um adeus por dizer, de um último sorriso, de um último jogo de futebol…

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O Covid-19 fechou-nos em casa mas a vida continua. Por isso, esta semana decidimos visitar as comunidades, para saber como estão e para que saibam que continuamos aqui, juntos na mesma luta. A vida, essa, continua.

O Covid-19 fechou-nos em casa e fechará, impede-nos de continuar os nossos trabalhos em plenitude, com as pessoas, mas esta semana confirmou o meu viver a missão: o mais importante da missão são as pessoas. Claro que estamos aqui para trabalhar, para fazer comunhão, dar o melhor de nós e dar testemunho da nossa fé. Mas tão ou mais importante que todo o precioso trabalho que fazemos é o tempo que vivemos com as pessoas. Viver entre as pessoas, fazer comunhão é dizer: és importante para mim! Como nos é dito em O Principezinho, “foi o tempo que dedicaste à tua rosa que tornou a tua rosa tão importante para ti”.

Obrigado a todos e todas pela vossa preocupação. Que o Senhor vos abençoe sempre!

Abraço apertado desde a Etiópia!

 

Pedro Nascimento

Uma carta vinda da Etiópia

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Na nossa caixa do correio chega uma mensagem muito calorosa do nosso LMC em missão na Etiópia, desde Março de 2019, Pedro Nascimento.

 

Queridos familiares, amigas e amigos,

Espero que este e-mail vos encontre bem. Espero que toda a família esteja bem.

Graças a Deus estou bem.

Começo a sentir o forte calor, quase sempre de 40 graus que aqui se faz sentir. O calor que não se compara ao mesmo calor que sinto quando visito famílias, brinco com crianças ou trabalho com esta gente maravilhosa. Como dizia São Pedro, “como é bom estar aqui” (Mt 17,4).

Continuo envolvido na Biblioteca. Graças a Deus e à generosidade de algumas pessoas, foi possível comprar mais alguns livros para a Biblioteca. Os estudantes que aparecem podem ter acesso aos livros escolares básicos. Duas senhoras portuguesas, que aqui vieram trouxeram calculadoras e outro material. Muitas vezes procuro ter cadernos escolares e canetas e oferecer àqueles que não têm possibilidades económicas mas que revelam grande interesse. Sempre que solicitam algum livro em específico tentamos comprar. O seu tempo não é como o meu e posso ter dias em que me aparecem 2 ou 3 como ter dias em que me aparecem 20. Mas, como os compreendo. Jovens, com trabalho a fazer no campo, a estudar, com família e alguns com 2 ou 3 filhos, já. Como poderão ter tempo para a Biblioteca. A verdade é que arranjam e quando vêm estudam, há silêncio e isso deixa-me bastante alegre.

Continuo a ter um grupo fiel nas aulas de inglês e de informática. Eles gostam, têm desejo de aprender e eu, não sendo um especialista, tenho muito gosto em ensinar-lhes.

Tenho um grupo de estudo da Bíblia, em inglês, com 4 catequistas. Lemos a Bíblia, explico palavras em inglês, meditamos os textos, por vezes vemos filmes religiosos em inglês. Sinto-me muito feliz com eles.

Costumo ir brincar na escola que ainda alberga famílias refugiadas. Comprámos uma bola e isso é suficiente para reunir os jovens e para desfrutarmos de bons momentos.

Duas vezes por semana, no mínimo, acompanhamos os catequistas nas aldeias, visitamos famílias, brincamos com as crianças. São momentos que nos enchem o coração. Estar com as pessoas é fundamental na vocação missionária.

Com os Missionários Combonianos, com quem vivemos, todos os dias temos missa às 6.30 e todos os sábados fazemos uma hora de adoração eucarística. Às quintas-feiras vamos a casa das Irmãs Missionárias Combonianas, também com elas, temos uma hora de adoração eucarística e jantamos juntos. Às quartas-feiras eu e o David temos oração comunitária.

Apesar de todo este trabalho é desejo dos Leigos Missionários Combonianos, eu e o David (meu companheiro de comunidade) incluídos, iniciar uma nova presença missionária entre o povo Gumuz. Não somos os primeiros LMC na Etiópia mas somos os primeiros a trabalhar e a viver entre os Gumuz.

Assim sendo, estamos a visitar as comunidades, falamos com as pessoas, analisamos a situação concreta de cada vila e das famílias.

Infelizmente o carro que temos não nos permite esse trabalho contínuo. As estradas são péssimas e requerem uma carrinha razoável. Depois de um mês, só agora retomámos a brincar com as crianças das aldeias pois o nosso carro estava no mecânico, o que acontece com muita frequência. Para além de que continuamente estamos a pagar essas despesas. Será necessário comprar um novo carro que nos permita continuar o nosso trabalho.

Para além disso é nossa intenção construir uma casa numa das aldeias, junto das pessoas, e viver com elas. Juntamente com a casa iremos iniciar projectos. Ainda estamos a definir os projectos mas a construção de um jardim de infância para as crianças que passam o dia sozinhas, sem qualquer adulto e de um Lar de estudantes, que permita a alunos irem à escola, quando muitos não podem ir ou fazem 30 quilómetros diários para irem à escola são os projectos que nos parecem mais viáveis, tendo em conta o que já analisámos e ouvimos de jovens e adultos.

Infelizmente para realizar estes projectos será necessário dinheiro. Por isso peço a vossa oração para que possamos realizar a vontade de Deus junto deste povo lindo. Caso saibam de ONG´s que financiam este tipo de projectos, informem-nos, por favor. Toda a ajuda, por mínima que seja, é preciosa para Deus. E como sei que não estou sozinho aqui, tenho a certeza que estais comigo!

As adversidades por vezes aparecem, tais como tifo ou tifóide, mas estou alegre por ter sido enviado para este lugar onde Deus já se encontrava no meio destas pessoas.

Estou quase a completar um ano neste país lindo! Não duvido disso! É um país lindo! Estou feliz! Sinto-me feliz! Vivo feliz! Isso não significa que, não haja sofrimento. Significa que, apesar de todas as contrariedades que aparecem, vale a pena estar aqui, significa que Deus nos fortalece e nos dá os instrumentos necessários para realizar a sua vontade!

Continuo a ter-vos presentes na minha oração, continuo a sentir a vossa amizade bem perto de mim, continuo a aprender que a distância não quebra laços antes os fortalece, recordando-me diariamente o quanto a vossa amizade e amor são importantes para mim.

Beijinhos e abraços deste amigo que muito vos quer,

Pedro Nascimento

UM LEIGO VOLUNTÁRIO EM MISSÃO HOSPITALEIRA EM TIMOR-LESTE

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O nosso amigo Mário, em missão em Timor-Leste com os Irmãos Hospitaleiros de São João de Deus, escreve-nos contando um pouco sobre a missão para a qual foi destinado. É com alegria e gratidão que podemos revisitar o que connosco partilha.

A missão dos Irmãos Hospitaleiros de S. João de Deus em Timor-Leste baseia-se na Casa de Formação em Díli e no Centro de Apoio à Saúde em Laclubar, distrito de Manatuto. É neste Centro que tenho estado a colaborar como voluntário desde início de outubro de 2019.

O Centro tem como missão principal o internamento temporário de pessoas com doença mental grave, com vista à sua estabilização, recuperação e reintegração familiar e social. Também faz o acompanhamento, a nível nacional e em articulação com os serviços de saúde distritais, de outros pacientes que permanecem em suas casas medicados.

Para levar a cabo estes objetivos, conta atualmente com o trabalho de uma enfermeira especialista em Saúde Mental e Psiquiatria (portuguesa), mais dois enfermeiros generalistas, de um médico de clínica geral, bem como de auxiliares de internamento, educadoras, responsável administrativa e técnicos de manutenção e apoio geral. Além disso, é também aqui o local de formação para os jovens aspirantes a futuros irmãos de S. João de Deus, no seu primeiro ano, junto dos doentes e necessitados como é o carisma hospitaleiro. Todas estas atividades estão sob a responsabilidade do Diretor do Centro e superior da comunidade de irmãos, o irmão-sacerdote José Manuel Leonardo Machado.

Qual o lugar para um leigo voluntário neste contexto? É dispensável, como apoio complementar ao quadro de pessoal? Talvez, tendo em conta os colaboradores existentes. Pode ser útil e benéfica a sua presença? Cremos que sim, como em qualquer outra situação de voluntariado, em que dar o seu tempo e afeto pode ser testemunho de amor e hospitalidade.

Em colaboração com a equipa de monitoras-educadoras, que desenvolvem várias atividades ocupacionais  com os pacientes ao longo da semana, fui procurando desde início observar, conhecer e acomodar-me de forma construtiva, no respeito pela realidade existente. Progressivamente, participo e intervenho em:

  • Atividades lúdicas, para estimulação de capacidades pessoais e promoção do bem-estar: jogos diversos, desenho e pintura, exercício físico, caminhada, canto e dança
  • Momentos de formação, sobre vários temas: promoção da saúde mental, importância da medicação, higiene pessoal e ambiental, civismo, geografia dos distritos, preparação para a alta
  • Tarefas que exercitam os pacientes para a vida do dia-a-dia na reinserção familiar: limpeza dos jardins e recolha desses lixos, ida ao mercado, ajuda na limpeza do internamento; são os pacientes que põem a mesa e lavam a loiça (rotativamente) e são ajudados a lavar a sua roupa.

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As principais limitações e dificuldades na ação voluntária, seja com os pacientes seja com os colaboradores, têm a ver com a comunicação. O conhecimento dos hábitos, tradições e valores é importante para a compreensão de atitudes e comportamentos e para não sentir estranheza perante o que é diferente.

Além disso, poder compreender e falar Tetum, a língua de comunicação natural em Timor-Leste (e que permite o diálogo entre a quase vintena de línguas locais) é uma necessidade fundamental para a integração e relação com as pessoas. Embora o Português seja também língua oficial, é conhecido e utilizado sobretudo na administração pública e contextos profissionais diferenciados (como acontece nos países que foram colonizados). Aqui no interior, apenas algumas pessoas falam um pouco em Português; não esqueçamos que, durante os 24 anos da ocupação indonésia, a língua portuguesa foi banida das escolas e a retoma demorará o seu tempo. O Português será sempre uma segunda língua, aprendida como língua estrangeira. Por isso, também os missionários, voluntários e profissionais estrangeiros devem aprender Tetum se querem uma integração plena.

Neste sentido, para além do estudo inicial que realizei antes de vir (e que acho indispensável), procuro ir aprendendo no dia-a-dia mas é sempre insuficiente para estabelecer uma conversação para além do trivial. Ter atenção que aquilo que se tenta dizer nem sempre corresponde ao que a outra pessoa entendeu.

Como voluntário psicólogo, isto limita a comunicação com os doentes, embora na sua generalidade não tenham indicação para psicoterapia, como acontece neste grau de doença. Ainda assim, a intervenção e o olhar na perspetiva psicológica da compreensão das limitações e necessidades de cada doente, das atitudes que servem e que não servem a sua recuperação e bem-estar, pode ser um contributo importante.

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Além disso, tenho ensinado Português a um grupo de jovens. E tenho articulado com a Fundação S. João de Deus a adoção para Timor-Leste do novo método de gestão das bolsas de estudo de mérito (BEM), através da Internet, e trabalhado na preparação dos conteúdos de cada bolseiro a colocar nesse sítio.

Acima de tudo isto, estou aqui porque sou cristão e porque partilho os valores da hospitalidade e da missão. Há cerca de um ano deixei de trabalhar profissionalmente, era hora de poder partir e dar algo de mim pelos irmãos em necessidade.

"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa (…) ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou (…)" (1 Cor 13). A leitura da Palavra e a oração são o alimento espiritual que nos dá o amor, a vontade e a persistência, mesmo quando vacilamos ou nos parece que temos pouco para dar. Assim, participar em momentos de oração e Eucaristia - com a comunidade dos irmãos, com os pacientes e colaboradores, com a comunidade paroquial de Nossa Senhora da Graça - faz parte indispensável da missão, preenche-me de alegria e de amor, faz-me sentir parte da Igreja.

Que o Senhor da Vida, seu Filho Jesus, nossa Mãe Maria, São João de Deus e São Daniel Comboni iluminem a nossa vida no serviço constante a quem sofre ou tem necessidade!

Laclubar, 31 de dezembro de 2019

Mário Breda     

O Calor do Advento

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Vinda da Etiópia, chega até à nossa caixa de correio uma bela e sentida mensagem do nosso querido Pedro Nascimento, que, em missão, vive o primeiro Natal for de Portugal: um Natal em busca de Jesus, junto de um povo esquecido, por muitos, mas bem presente no meu coração.

Celebrámos ontem o Primeiro Domingo de Advento (em Portugal celebraram o III Domingo de Advento). Este será, certamente, o Advento mais quente da minha vida. Para além dos 35 graus que agora se fazem sentir, este será o Advento mais quente porque aqui, o tempo de preparação para o Natal está ainda protegido do consumismo exacerbado que em Portugal mata o nosso Natal.

Aqui não se gasta milhões com as luzes natalícias (muitas vezes não temos sequer electricidade ou água em casa), não se vê propaganda natalícia; não se vê a azáfama das compras de Natal e dos jantares e almoços de Natal. Aqui, simplesmente, se aguarda a chegada do Natal, em oração e contemplação, desejando que o Deus Menino nasça nestes lindos e sofridos corações. Aqui, entrego a Deus, esta realidade sofredora, que me destrói e me constrói, que me abre os olhos a uma realidade dura e bela, que me faz questionar o sentido do Natal e o modo como o vivo.

Jesus nasceu num estábulo humilde e pobre, rodeado de animais. Contemplando a realidade onde me encontro, são imensos os lugares onde Jesus poderia nascer aqui: na escola secundária, agora habitada por famílias gumuz, deslocadas de suas casas, tantas vezes sem esperança e com medo; nas famílias que visitamos e que muitas vezes nos oferecem para comer e beber do pouco que têm; na casa das crianças com quem eu e o David vamos brincar todas as semanas e que muitas aparecem descalças, sem roupa ou com as roupas rasgadas e todas as semanas a mesma roupa; na família que perdeu duas crianças, em simultâneo, na semana passada. Para todas estas realidades e muitas outras que não menciono o meu desejo é um só: Vem, Vem Senhor Jesus!

Confesso que tenho grande desejo de celebrar o Natal aqui! Será o primeiro Natal fora de Portugal, fora da família e claro que não será fácil! Mas é um Natal em busca de Jesus, junto de um povo esquecido, por muitos, mas bem presente no meu coração. Será um Natal em que também eu serei pequenino diante das dificuldades e desafios mas esperando a vinda do Príncipe da Paz, do Deus Menino, da Esperança que a todos quer iluminar.

O trabalho, aqui, começa a surgir: a biblioteca que estamos a iniciar, ainda com poucos livros (vamos comprando quando há dinheiro e quando os estudantes nos pedem algum livro em particular), mas que começa a ter vários estudantes; aulas de inglês na biblioteca; aulas de informática na biblioteca; estudo do Novo Testamento com alguns catequistas; actividades com as crianças nas aldeias; visitas e actividades com os jovens que vivem na escola secundária, deslocados de suas casas.

Sei que em Portugal estamos quase no Natal. Assim sendo, desejo a todas e todos, votos de um santo Natal, na certeza de que Deus virá e fará morada no teu coração! Que seja um Natal da Igreja Doméstica, da família e que em todos os lares haja um lugar para Jesus.

Pedro Nascimento

Notícia da missão em República Centro-África

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Desde a Missão de Mongoumba (República Centro-Africana) a LMC Maria Augusta escreve para o Jornal da sua paróquia - O Astrolábio

Vim aqui a Bangui [capital da República Centro-Africana], porque o padre Fernando teve um acidente e está aqui no hospital. Ele teve o acidente quando voltava de Mbaiki [porque Mongoumba pertence à Diocese de Mbaiki], depois de participar na Missa Crismal. Vinham com ele a Cristina e o padre Maurice e atrás viajavam sete pessoas. Felizmente estes dois não ficaram feridos nem com grandes dores físicas, mas existem as emocionais. Mesmo assim, puderam estar sempre ao lado do padre Fernando, que era muito necessário.

As pessoas que vinham atrás tiveram alguns ferimentos, mas, felizmente, nada de grave, só um deles foi hospitalizado, mas não estava mal, graças ao Senhor. O padre Fernando foi cuspido pelo vidro da porta. Teve dois traumatismos: um na testa junto aos olhos e outro atrás. Foi operado no Domingo de Páscoa e correu tudo bem.

Eu e a Ana chegámos na terça-feira [a Bangui] e ficámos no Postulado, porque havia a Assembleia Comboniana. Passámos a Páscoa muito preocupados, porque não sabíamos como eles estavam… Quando vimos o padre Fernando ainda estava mal! Só hoje vim um pouco à Maison Comboni [casa dos missionários Combonianos em Bangui], porque temos estado muito ocupados com ele. Graças a Deus, ele vê-se melhorar de dia para dia. Ainda necessita de comer tudo passado, porque o maxilar superior não toca o inferior e assim não pode mastigar. Temos esperança que na cabeça estará tudo bem, porque ele fala bem e todos os sentidos funcionam… Temos muitas graças a dar a Deus, que protegeu todos aqueles que viajavam. A Providência Divina estava com eles, porque o acidente ocorreu a 1 quilómetro da Missão de Mbata e também porque apareceu uma viatura que os transportou ao hospital da vila (onde o padre Fernando foi suturado) e, depois, até Bangui.

O padre Fernando irá ao Benim fazer um TAC à cabeça, a fim de verificarem se está tudo bem com ele, e depois descansar e recuperar forças para continuar a missão que o Senhor tem para ele. Tenho confiança que vai estar tudo bem, com a graça do Senhor!

A Cristina fez exames e está tudo bem. Ela tem ajudado muito o padre Fernando! Ela ficará em Bangui até se sentir à vontade para voltar a Mongoumba.

O padre Maurice está bem, mas muito cansado.. até quarta-feira fez todas as noites e de dia preocupado com os outros sinistrados. Graças a Deus, quinta e sexta descansou e já o sinto melhor...

O padre Samuel chegou, na quarta-feira, bem e animado para a Missão que o espera. Nos meses de Julho e Agosto irá fazer animação missionária aos Estados Unidos.

Esperamos que nessa altura o padre Fernando já tenha voltado repleto de saúde.

A assembleia correu bem. Veio fazê-la um irmão do Togo, amigo do padre Maurice.

A bebé gémea de que falei na última mensagem acabou por morrer… O Senhor lhe deu a Sua mão, pois ela sofreu muito!

Sempre unidos pela oração.

Santo tempo Pascal para todos!

Um abraço para todos do tamanho do Mundo! Obrigada pelas vossas orações.

A LMC Maria Augusta

 in o Astrolábio

ANO V – Nº 147 – 5 de Maio de 2019

Paróquias de Cabril, Dornelas do Zêzere, Fajão, Janeiro de Baixo, Machio, Pampilhosa da Serra, Portela do Fôjo, Unhais-o-Velho e Vidual

 

Notícias da Etiópia

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Queridos amigos e amigas,

Parti de Portugal no dia 6 de março de 2019. Cheguei à Etiópia no dia 6 de março de 2011. Estou mais novo.
Obrigado a todos e todas pelas manifestações de carinho e de amizade. Nas minhas orações coloco-vos no coração de Deus porque Ele, que nos ama a todos e a cada um de nós, em particular, sabe o que é melhor para cada um de nós.
Por isso estou aqui na Etiópia. Porque Ele, que me ama, sabe o que é melhor para mim! Não sei até quando. Sei apenas que estou e cada dia é uma aventura nova, um desejo sincero de viver a missão para onde me enviou.
Estou bem! Melhor que isso, estou feliz! Encontro-me a viver na casa provincial dos MCCJ da Etiópia, em Addis Abeba. Esta vai ser a minha casa nos próximos meses, enquanto estou a aprender o amárico.
O amárico é uma língua difícil. Porém, graças a Deus, até agora, ainda não caí na tentação de desânimo. Fortalece-me o desejo de estar próximo das pessoas, de falar com elas, de fazer comunhão. E, sem saber o amárico, isso é quase impossível ou mesmo impossível.

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Estou apaixonado pela Etiópia. Sei que vou ter momentos difíceis e duros, de dúvida e de desespero. Mas agora estou apaixonado. E quero viver este momento com intensidade, porque é único.

Vivo em comunidade com os MCCJ em Addis Abeba e sinto-me comunidade. Desde o início que fui maravilhosamente recebido. O nosso dia começa com Eucaristia e laudes às 6:30; depois do pequeno almoço, vou para as aulas, que começam às 8:30 e terminam às 12:00 e, após almoçar, início o estudo. Às 18:45 rezamos vésperas e, depois de jantar, por hábito, convivemos um pouco.

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A nossa casa está quase sempre cheia. Por aqui passam muitos missionários a caminho das suas missões em África. Já tive a oportunidade de conhecer alguns padres e até bispos. Já encontrei histórias lindíssimas e arrepiantes. Quão dura é, por vezes a missão… Mas sempre bela. A nossa vida está nas mãos de Deus.

Tive, já, a oportunidade de estar uns dias em Hawassa com os LMC aqui em missão. Que bonito foi. Até a um bolo tivemos direito, para comemorar a minha chegada. Na formação aprendemos que devemos receber bem os novos LMC. Mas receber essa calorosa receção e carinho é, de facto, extraordinário. Estou grato aos nossos LMC na Etiópia por isso.
Em Hawassa durante um passeio de bicicleta, furei as duas rodas. Foi um bom batismo. Este fim de semana participei num retiro dos “Comboni Friends”. Que bonito foi.
A celebração da Páscoa, aqui, será uma semana depois da celebração da Páscoa em Portugal. Aproveitando uma semana de férias, irei conhecer a missão com os Gumuz, o povo com quem, se Deus quiser, irei trabalhar. Estou entusiasmado. Depois contar-vos-ei como foi.
A todos vós e familiares desejo uma santa Páscoa e não se esqueçam de que Deus vos ama.
Estamos juntos no amor de Deus.

LMC Pedro Nascimento 

Missão não é experiência, é VIDA

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Talvez a consciência que temos de nós próprios aqui diminuiu dada a grandeza do mundo ao qual te sentes chamado. Talvez a pouco e pouco nos fomos desapegando das coisas para nos apegarmos ao mundo, às pessoas, ao amor. Já não temos coisas. Já nada é nosso. Já não há nada que não possa ser dado, ser partilhado com todos os que caminham lado a lado connosco. Há muito que não somos só nós e que tudo o que somos é partilhado não só entre nós mas com o mundo. Somos parte de um todo que só tem sentido assim na partilha demorada dos dias e das vidas que somos e que sabemos ser juntos.

A paisagem traduz em muito a grandiosidade do que nos vai dentro, a grandiosidade dos pequenos milagres dos quais não somos apenas espectadores, somos o grão plantado em terra fértil, somos rega constante de vidas com sentido. Já não somos somente nós, somos mais que a soma das partes. Somos de Deus. Somos seu instrumento, somos as suas mãos, os seus pés e os seus abraços. Somos imperfeitas e feridas num mundo cheio de dor e de sofrimento onde porém com amor ousamos semear o paraíso do amor de Deus.

Em cada amanhecer saímos ao encontro do outro saímos do conforto do que não temos, nem a nós pertence vamos ao encontro do amor. Vamos na esperança que em cada rua ou esquina teremos sempre dois braços prontos a crescer connosco. Não somos nada e na nossa humildade somos o que de mais verdadeiro existe. Não conseguimos enumerar a quantidade de vidas que já cruzaram a nossa nem a quantidade de sorrisos, lágrimas e abraços que partilhamos na simplicidade da soleira da porta. É mesmo assim, o amor é despojado da superficialidade, é integro não tem cor nem raça, é porque é. E nós somos chamados diariamente a deixá-lo ser e crescer.

Damos a vida todos os dias sem horários, sem planos. Damo-nos. Tantas são as vezes em que deixamos os nossos planos porque Deus nos chama através de uma história. Tantas são as vezes em que sentimos que é o próprio Deus quem nos chama à porta através de tantos rostos, histórias e pessoas. Somos disponíveis ao amor que nos bate, que nos chama em cada momento. Somos disponíveis ao apelo de Jesus que sentimos que nos chama diariamente.

Somos terreno em crescente cultivo aberto ao cuidado do outro e aberto à possibilidade de crescer de mãos dadas no caminho de Jesus. Somos cruz carregada em ombros e braços de quem perdido não consegue caminhar. Isso é missão. Aceitar diariamente o convite de Jesus a um estilo de vida menos nosso e mais d’Ele. Não é fácil. Sabemos com a nossa vida que o caminho nada tem de fácil. Mas só assim para nós tem sentido.

Missão é vida, é a nossa vida, são as vidas deles e a vida que sabemos ser e doar no anúncio de um Evangelho vivo em cada um de nós. Somos em cada passo testemunhas de um Jesus que quer habitar na simplicidade dos nossos corações. É no saber-nos família, que cada dia, em cada visita, nos entregamos e somos mais.

A terra é árida e os montes que nos ladeiam são muitas vezes o caminho de muitos para a sua casa. Protegidas pela força imponente do vulcão Misti e Chachani de vara em mão atravessamos os limites do visível e partimos em busca do rosto de Deus nos mais distantes. Subimos e baixamos os montes, percorremos o caminho mais sinuoso. Ultrapassamos os limites físicos do nosso corpo que por vezes pede descanso. Ultrapassamos os nossos limites, certas de que é Ele a nossa força e a nossa vida. Certas que é nossa a missão de o levar e anunciar onde Ele já habita onde já há sementes d’Ele, onde já há Deus onde só falta quem lembre, quem O diga e anuncie. Ultrapassamos as nossas periferias para ir às periferias do mundo e aí ser símbolo de vida, de amor, ser símbolo d’Ele.

Não temos muito. Vivemos simples e humildes entre o povo de Deus. Somos com eles povo de Deus. Na simplicidade e pobreza da vida que levamos habita o tesouro nos vasos de barro de cada um dos nossos corações: o amor de Deus.

É bom, muito bom deixarmo-nos emocionar com todos aqueles que compõem hoje a nossa história. É bom ser apoio e ombro é bom ser lugar de refúgio é bom podermos ser Neuza e Paula em tudo o que somos e partilhar na simplicidade esse dom que é a nossa vida. E ajudar o outro a descobrir o dom da sua. Somos aqueles que nos chegam, somos dos que nos partem, somos dos que vêm e de todos os que deixámos. E passo a passo não descobrimos a missão, somos missão. Somos uma missão que não é nossa mas daqu’Ele que nos envia todos os dias a um amor maior.

Somos duas das mil vidas para a missão de Comboni. Juntas redescobrimos novas Áfricas, novas periferias. Não nos chega o pouco, não nos chega a planície do conforto. Vamos. Juntas vamos para lá dos montes, para lá de nós. Juntas vamos ao encontro das novas periferias, aquelas onde ainda não estamos e que ainda não chegámos. Soubessem vocês, soubéssemos nós quantas Áfricas faltam descobrir, quantas periferias existem sedentas de Deus, do seu amor e desse milagre de Amor que é a Eucaristia. Por isso estamos aqui. Por isso vamos ao encontro do amor fazendo da nossa vida a missão.

Na oração diária descobrimos os caminhos a seguir, descobrirmos a beleza de uma missão sem fim, sem fronteiras, sem limites. Ele é o limite. Na verdade, Ele não tem limites. Caminhamos na certeza de que não estamos sós pois são os seus braços que encontramos a cada amanhecer e fim de dia. Caminhamos na certeza de que chegamos sempre onde Ele nos espera. E ainda que o dia seja longo e muitas sejam as histórias de vida que nos chegam e nos fazem partícipes e muitas vezes sejam as lágrimas o que partilhamos uns com os outros. A resposta é sempre a mesma. Sim, Senhor, estamos aqui, leva-nos onde queres que estejamos. E ainda que a vida nos leve para longe daqui, somos Peru no mesmo amor que nos trouxe aqui e nos faz irmãos até fim.

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do Peru com amor,
Neuza Francisco & Paula Ascenção

Notícias da missão de República Centro-Africana - Jornal Astrolábio

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Desde a Missão de Mongoumba (República Centro-Africana) a LMC Maria Augusta escreve para o Jornal da sua paróquia - O Astrolábio

Caríssimo Padre Orlando

Como está? Espero que tenha começado muito bem o novo ano e que assim seja até ao fim. Um bom 2019 para todos os seus paroquianos e sua família.

Eu tive malária na semana passada, mas, graças a Deus, estou já a recuperar. Os outros membros da comunidade estão bem.

O padre Samuel partiu, hoje, para passar as suas férias. Pedimos, ao Senhor que as passe bem e que possa voltar cheio de força e coragem para continuar a missão que lhe é confiada.

Nos dias 17 e 18 de Dezembro tivemos a visita do Cardeal. Toda a gente da paróquia ficou contente! A chegada era uma multidão... vieram muitas pessoas de outras confissões cristãs diferentes. A igreja ficou repleta de gente, para a Eucaristia, e fora dela havia quase outras tantas pessoas, demorou 5 horas! Ele falou muito bem sobre o problema de likundu* (feitiçaria) e outros problemas. A Ana e a Cristina estavam em Bangui e o Simone em Itália, eu estava com os padres para o receber. Graças a Deus correu tudo muito bem! Espero que as pessoas ponham em prática aquilo que escutaram! Visitou todas as dez paróquias da diocese. A nossa foi a penúltima, terminou a sua visita pastoral na catedral S. Jeanne d' Arc, em Mbaiki. Acabou cansado, mas muito contente com a participação que houve.

Quando viemos aqui a Bangui, na última vez, encontrámos no supermercado um polícia de Janeiro de Cima. Ele disse que já ouvira falar que estava aqui uma missionária de Janeiro de Baixo. Foi muito bom! Falou-nos que havia militares à beira do aeroporto e ontem fomos lá fazer uma visita. Receberam-nos muito bem e com grande alegria! Deram-nos medicamentos e convidaram-nos a ir la almoçar. Se Deus quiser iremos la amanhã.

Os resultados dos nossos alunos não são animadores, esperamos que melhorem neste trimestre.

Sei que tem visto e escutado muitas notícias, nada agradáveis, sobre este nosso pobre país. Graças a Deus aqui estamos em paz, mas sofremos com os nossos irmãos que estão a ser massacrados!

Ainda não sabemos quando voltamos para Mongoumba...

Continuamos unidos pela oração.

Um grande abraço missionário de todos nós, para si e todos aqueles que lêem o Astrolábio.

A LMC Maria Augusta

 in o Astrolábio

ANO V – Nº 139 – 3 de Fevereiro de 2019

Paróquias de Cabril, Dornelas do Zêzere, Fajão, Janeiro de Baixo, Machio, Pampilhosa da Serra, Portela do Fôjo, Unhais-o-Velho e Vidual

*O problema de likundu tem a ver com aqueles que são falsamente acusados de feitiçaria e brutalmente assassinados.