Aqui respiro abundância da Boa Nova.
Somos quatro, conduzidos pelos belos braços do pescador, que como um verdadeiro dançarino, se esguia da corrente da riviera.
A pequena barca ( piroga ) se contrapõe, mas o impulso de pescador é forte e sábio.
Com delicadeza subimos o rio, o peso dos assentados não se faz sentir, a brisa toca-me no rosto, respiro fundo, fico tranquila e cesso com a constante pergunta “ falta muito?”
O pastor já faz alguns anos, o corpo já conta muitas estórias, nos seus braços bem aconchegado ao seu peito, leva a esperança, o amor, alegria, a concretização.
Com “Ele” se alimenta e alimenta.
André há uma semana que nos aguarda, o aviso da Boa Nova já se faz sentir pelos preparativos da chegada do pastor e duas leigas:
- São duas Moundjou`s ( brancas ) vão ficar connosco!
O sol com ternura começa a despedir-se, chegamos!
Somos acolhidos pelos sorrisos que nos levam a passear pela pequena aldeia.
Acompanhados pelo catequista e por todos os “sem medo “ do Moundjou.
Visitamos a escolinha, um pequeno posto de saúde, um barzinho, um campo de futebol.
Rapidamente chegamos ao ponto de partida, a Capela de Sedalé.
Num rodopio passamos pelas casinhas todas, onde o mais importante é a escuta, e foram muitos os apelos ao pastor, sempre de sorriso fácil foi acariciando as mãos, os rostos , as cabeças.
A noite começa a despertar e somos levados para a família que vai acolher as nossas necessidades.
No exterior da casa já faz algum tempo que a bela mesa, as belas cadeiras, os melhores lugares,
o melhor pedaço de comida, nos espera.
Entre saudações, a oração do pão se faz e a partilha se concretiza.
Partilha de generosidade infinita é comovente!
Tarde e cansados pela viagem, papá, mamã, e todo o resto da família, ausentaram os seus haveres de sua casa, para nos acolher.
Bela casinha, de um quadrinho só, e multiplicada em pequenas partículas de reflexão de realidade, como se a palavra Gentileza, Generosidade, tivessem significados diferentes noutras culturas.
Aiaiai temos muito a recuperar, relembrar, corrigir...!!!
Como é simples amar e deixarmo-nos amar.
A noite não foi de sono profundo, as hóspedes na procura do seu habitual formatado conforto, torciam e retorciam no leito grande e duro, os muros de proteção feitos pela grande rede mosquiteira já fatigada, não pelo uso pela qual foi inventada mas por outras tarefas mais exigentes como por exemplo, pescar.
Não serviu de silenciador aos incomodados proprietários, galinhas e cabras, contestavam.
Do lado exterior as cabras se faziam deslizar pelas paredes da casa, feitas de barro e paus de palmeira, marcando o seu território e rasgando o silêncio da noite.
No interior do quarto, as galinhas no intervalo do desassossego das Moundjou`s ( brancas ), dormitavam reclamando.
A manhã demorada chegou com o esvoaçar brusco e aflito dos galinhaços, convertendo o mau humor da noite numa boa gargalhada..
Guiados pelo papá Caminhamos para a Casa de Todos, Capela, onde nem todos nos aguardam, até porque estamos na terra de pescadores e do comércio de madeira, aqui partem pirogas grandes carregadas de belos troncos de árvores bem polidas e delineadas.
Não fosse a dureza e a dificuldade árdua, grotesca e rudimentar das tarefas a vida seria mais equilibrada.
O pastor confortavelmente se senta na entrada da capela a olhar o rio, pão de cada dia desta gente que sem nada têm tudo.
Um a um se vão aproximando dele, falando, sorrindo, chorando.
Ele os mergulha no rio de esperança, de amor, de vida.
Rápidamente a capela se enche com tudo e todos, a música pauta alegria, as danças cobrem de cor a onde de calor que se começa a sentir.
E, em conjunto na Tua casa, Pai, fizemos Causa comum a tua Palavra...
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P.S.
Fim de semana na Capela de Sedalé
( acesso somente pelo rio, a viajem é longa, temos que ir e ficar a dormir na aldeia )
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Mongoumba 02 de Abril de 2024
República Centro Africana
Cristina Sousa, LMC
Leiga Missionária Comboniana