A Maria de Lourdes é uma Leiga Missionária Comboniana do Brasil que trabalhou em Moçambique durante oito anos, alguns deles partilhados com os nossos LMC’s portugueses. Durante este tempo perdeu na sua terra natal quatro familiares, incluindo o seu pai.
Agora, chegou o momento da despedida.
Regressará ao Brasil no próximo dia 19 de Dezembro. “Nestes dias tenho o coração fragilizado pela despedida, as lágrimas insistem a querer minar em meus olhos…,” escreve Lourdes na sua carta de despedida que a seguir publicamos.
“Experimentei muitas coisas dolorosas nestas terras, mas também muitas alegrias com este povo que insiste em sorrir diante de tantas misérias”
Agradecimento e partilha ao comité central dos LMC e às províncias combonianas de Moçambique, Brasil e Portugal.
Aproveito desta ocasião para agradecer a todos estes oito anos que eu estive em Moçambique, dos quais quatro directamente com a família comboniana, outros quatro no Niassa com o projecto Além Fronteira, que também teve a participação do nosso querido e estimado D. Franco Masserdoti, agora junto de Deus a interceder pela tão sonhada África.
Nestes dias tenho o coração fragilizado pela despedida, as lágrimas insistem a querer minar em meus olhos, tudo parece nebuloso, mas a certeza da nebulosidade é que virá a chuva para molhar o solo e assim preparar a terra para a machamba e depois colher os frutos e deles saciar.
Nesta noite fui surpreendida com os alunos da Escola Industrial de Carapira (E.I.C.) a cantarem na nossa varanda, saí para saúda-los e em coro me carregaram para o puarô, lá chegando me carregaram ao colo e agradeceram com palavras simples, mas carregada de gratidão, ao final a Escola me ofereceu um bonito quadro com o desenho da E.I.C.
“aprendi muito nestes anos, com certeza não precisarei de grandes coisas pois a África da pobreza me ensinou que basta o necessário”
Retorno ao meu País em 19 de Dezembro próximo e tenho certeza que não esquecerei o rosto de cada moçambicano que Deus fez cruzar na minha história de vida, aprendi muito nestes anos, com certeza não precisarei de grandes coisas pois a África da pobreza me ensinou que basta o necessário, não esquecerei as dificuldades deste povo que acorda pensando em caminhar distancias para encontrar água, distancia para chegar ao hospital e que por vezes morrem a caminho sem antes chegar a ser atendido, pois a distancia se encarrega de leva-los para Deus.
A malária que ceifa muitas vidas, por falta de medicamentos, as crianças desnutridas que aos nossos olhos é por falta de cuidados das mães, e somente Deus sabe que é a falta de informação destas que também não vêem saídas para a situação.
Experimentei muitas coisas dolorosas nestas terras, mas também muitas alegrias com este povo que insiste em sorrir diante de tantas misérias, as casas, a higiene, educação escolar, a política governamental, enfim…, o sorriso continua em tuas faces.
Em meio a tantos desafios Deus não deixou que desanimássemos mas que acreditássemos no sonho dos LMC nativos, a terra foi preparada, a semente lançada, agora cabe aos que ficam continuar a regar para que o sonho de Comboni se faça realidade.
“ O importante é que amei a todos, mas quando se ama também se magoa, pois a proximidade nos torna por vezes vulneráveis.”
Eu aproveito para pedir-vos desculpas por alguns incidentes, como humana sei que em alguma coisa falhei, mas o importante é que amei a todos e quando se ama também se magoa, pois a proximidade nos torna por vezes vulneráveis.
Parto com a certeza de ter acolhido o chamado de Deus em minha vida junto ao povo moçambicano.
E espero retornar dentro de um ano, para já quero e preciso reviver o filho, a família, afinal nestes tempos em Moçambique perdi 4 membros da família e não fui para o velório. Inclusive o falecimento do meu querido papai.
Agradeço às Províncias de Moçambique, Brasil e Portugal, que sempre caminhou comigo nos momentos mais difíceis e também nas alegrias.
A comunidade de Carapira nem encontro palavras, pois vivemos de fato uma grande coesão. Ao povo moçambicano, eles sabem que o que se sente, vive-se e, nestes tempos vivemos plenamente nossos anseios, desilusões, ilusões e esperanças, estes foram meus fieis companheiros no período em que fiquei só aqui na missão, se eu demorasse para abrir a porta, logo a vizinha me chamava para ver se eu acordei bem, não precisamos de muitas palavras, vivemo-las.
Deus nos abençoe,
Carinho,
Por: Maria de Lourdes Vieira, LMC Província Brasil Sul.
Fonte: www.comboni.org