Samuele Gallazzi, Italiano, reflete acerca do que foi discutido durante os 5 dias (2 a 7 de Agosto) do 2º Encontro Europeu de LMC em Verona, onde se reuniram mais de 60 participantes provenientes de 5 países europeus. “Dos temas debatidos nestes dias, eu gostaria de salientar um deles – diz Gallazzi – que inflamou o espírito dos italianos: “Podemos nós chamar-nos a nós próprios LMC’s mesmo se não tivemos uma experiência duradoura em missão?” Este foi um dos tópicos quentes acerca da identidade dos LMC que deveria ser clarificado antes da 5ª Assembleia dos LMC que terá lugar na Maia, Portugal, no mês de Dezembro.
“Escolher Comboni como um meio para viver a pertença à Igreja.”
No esplendido panorama de Verona, o Encontro dos LMC foi um tempo de intense debate, especialmente para aqueles –como a clamorosa e numerosa delegação italiana – que estiveram presentes neste tipo de encontros pela primeira vez.
Os convidados eram experts e estimularam o grupo com uma serie de observações que, cada uma delas, mereciam um estudo adequado e mais profundo. “De entre estes temas eu gostaria de salientar um deles – diz Gallazzi – que inflamou o espírito dos italianos: Podemos nós chamar-nos a nós próprios LMC’s mesmo se não tivemos uma experiência em missão? Eu sei, o tema é antigo e ao mesmo tempo monótono. Mas aberto num fórum internacional pode abrir novos modos de interpretação.
De facto, na Europa, a questão não é uma preocupação diária nem parece trazer tensão nas relações entre os LMC e os Missionários Combonianos. Tendo sido questionado, o membro do Comité Central dos LMC, Alberto de la Portilla, respondeu com serenidade: “Não, sem experiencia de missão uma pessoa não é LMC.” Não satisfeito com a sua resposta, consultei o documento dos LMC (Granada 2006 – Firenze 2007) e também aí encontrei a mesma falta de atenção para o tema que, apresentado de forma breve, se resume dizendo que o LMC é aquele que vai, que foi ou que está prestes a ir para a missão.
No entanto, esta questão foi já largamente debatida a nível internacional e apenas na Itália há dificuldades em ser aceite. O Alberto explicou melhor a sua resposta: os LMC não são, nem pretendem ser, os únicos leigos com uma resposta no mundo Comboniano; em Espanha por exemplo, muitos dos simpatizantes que suportam aqueles que partem são membros da ONGD Amani. Daí a conclusão do Alberto: Porquê chamar a todos LMC?
Eu penso que esta questão é legítima e pode ser observada através de três pontos.
O primeiro.
A realidade dos leigos Combonianos na Itália surgiu a partir de uma serie de grupos, a maioria vindos das vizinhanças das casas Combonianas, com diferentes origens, idades e dimensões, mas todos remando para a mesma direção: para promover as atividades Combonianas, vivendo e crescendo com a noção de que a mensagem de Comboni é uma vocação também para nós, aqui e hoje. Estes são grupos que vivem na sua própria terra a inspiração laical recebida de Comboni, propondo diferentes caminhadas de formação, compromisso e missão. A presença destes grupos é uma riqueza com grande potencial:
- Os grupo são catalisadores de jovens – e não só – que têm desejo de continuar a aprofundar o carisma Comboniano depois de terem conhecido o universo Comboniano (GIM); neste sentido, eles são a melhor forma de “recrutar” novos membros para os LMC;
- Vários grupos criaram – ou estão a criar – comunidades residenciais de famílias, um ponto importante da atividade dos LMC na Itália: Estas comunidades permitem a preparação daqueles que em missão vão viver uma experiência comunitária e tornam mais fácil a vida à famílias que de lá voltam, oferecendo-lhes casa nos primeiros meses de regresso.
- Finalmente, existe uma coordenadora que une as atividades dos vários grupos que operam no território.
Os outros países europeus presentes em Verona não têm – pelo que pude entender no meio da confusão de línguas destes dias – a mesma textura de grupos espalhada pelo território nacional. Os LMC individualmente encontram-se em encontros nacionais que, naturalmente, são menos frequentes do que se vivessem perto uns dos outros.
O Segundo tipo de motivação pode ser resumido numa pergunta: Porque é que ainda hoje limitamos a missão a uma dimensão “ad extra”? A reflexão acerca da missão aponta cada vez mais para uma visão antropológica e cada vez menos para aspetos puramente geográficos. Viver a missão na Europa de hoje, não só já não é um paradoxo, mas torna-se cada vez mais uma necessidade sobre a qual todos os Institutos Missionários devem refletir e encontrar respostas concretas. Devemos afastar-nos dos estereótipos que apresentam os missionários no seu próprio país como que “estacionados” e desenvolver as necessidades crescentes que a Itália e a Europa ocupam em relação ao Resto. Se isto é verdade para os Padres e para as Irmãs, ainda mais deverá ser para os leigos, que podem tornar-se percursores iluminados deste caminho.
O terceiro e último aspeto nasce da consideração que ao dividir a realidade laical Comboniana nos que partem e nos que não partem, corre-se o risco de criar grupos e sub-grupos, sem se juntar forças e inteligências. Quem ficaria a ganhar com tal separação? É preferível seguirmos juntos de forma a termos um Movimento laical que seja forte e credível. Juntos não só por termos vivido uma importante experiência no exterior, mas sobretudo por termos escolhido Comboni como um meio para viver uma pertença à Igreja: ser-se LMC deve antes de tudo ser uma vocação para a qual nos sentimos chamados.
Concluindo, espero que esta “heresia” italiana possa dar origem a um debate europeu dentro do Movimento LMC, que nos conduza ao diálogo desta e doutras considerações acerca do nosso modo de viver a missão.
Samuele Gallazzi, LMC – Venegono - Itália
Fonte: Comboni.org