“... apesar das diferenças, todos estabeleceram
como base e fundamento do sentido da vida
o Amor e a relação com os outros”
Dois dias intensos fizeram agitar as capitais europeias da Cultura (Guimarães) e da Juventude (Braga) nos passados dias 16 e 17 de novembro. Todos os caminhos foram dar ao Átrio dos Gentios onde os quase dois mil participantes refletiam e debatiam sobre o valor da vida. Muitos eram os convidados mais, mais ainda, eram os que, em busca do sentido da vida quiseram dar voz e ser voz neste evento internacional.
Em Braga, eram três os centros onde as atividades se realizaram. Contar-vos-ei, portanto, aquilo que me foi dado presenciar, além da união, alegria e camaradagem dos elementos da equipa da organização que, com o seu testemunho de entrega e dedicação ao trabalho que lhes foi confiado, com o seu sorriso, faziam a primeira abordagem aos “gentios do átrio” sobre o real valor e sentido da vida.
A manhã de dia 17 começou, no Auditório Vita, com o teatro “Job ou a tortura pelos amigos”, de Fabrice Hadjadj e encenação de Helena Carneiro. Uma peça de teatro que nos leva ao coração do livro de Job na sua própria descoberta de sentido da vida quando todos, direta ou indiretamente, o abandonam e o responsabilizam pela sua sorte.
Como que a coroar esta apresentação teatral, o Cardeal Ravasi apresentou e fez o lançamento do livro Mostrar Cristo ao Mundo – cinco anos de pontificado de Bento XVI. Todos se sentiram tocados pelas palavras amigas e simplicidade do cardeal. De facto, também ele, com o seu sorriso e proximidade aos participantes, conseguiu dar testemunho do rosto de Cristo e da alegria e fé da Igreja – Povo de Deus.
"O ser humano não consegue realizar-se
e dar sentido à sua vida isoladamente."
À tarde, após um almoço onde reinava a boa disposição e onde as conversas não eram mais que ressonâncias do que estava a ser vivido por todos, com Fernando Nobre, Isabel Jonet, Paulo Moura e Isabel Galriça Neto, sob a moderação de Paulo Rocha, deu-se início ao workshop “Sentido da Vida e o sofrimento humano – religião e humanismos”. Aqui, estes convidados expuseram, segundo a experiência de vida de cada um, as suas reflexões sobre o sentido da vida. E apesar das diferenças entre eles, todos estabeleceram como base e fundamento do sentido da vida o Amor e a relação com os outros. Todos deram tónica ao facto do ser humano não conseguir realizar-se e dar sentido à sua vida isoladamente, sem ser em relação com o outro. Além disso, Paulo Moura – jornalista em situações de guerra – afirmou ainda que “em qualquer circunstância o sentido da vida é sempre maior que o sentido de sobrevivência”, já que, pela sua experiência, viu homens e mulheres, sem olharem ao risco de sobrevivência, lutavam e alegravam-se porque o seu sofrimento “tinha sentido”. Por sua vez, Isabel Galriça Neto – diretora dos cuidados paliativos – coloca a pessoa acima do seu sofrimento. A pessoa não é a sua doença, afirmando por isso que “o ser humano não deve ver-se como vítima passiva das situações adversas da vida, ao contrário, é ele quem tem a decisão e o poder de fazer com que essas situações se tornem oportunidades no sentido da vida” e que “ajudar o outro é ajudar o outro a ajudar-se, isto é, a nossa ajuda não passa por “controlar” ou dar soluções ao outro, mas ajudar a pessoa a transformar um drama ou sofrimento pessoal numa nova oportunidade para a vida, num triunfo pessoal”.
No fim deste workshop seguiu-se, com Elena Postigo Solana e Maria de Sousa sob a moderação de Leonor Beleza, o workshop “Genética e bioética – ciência e política”.
Ao fim da tarde, a Orquestra Geração de Lisboa e os Jovens Cantores de Guimarães presentearam todos os presentes com uma apresentação única de qualidade musical, espírito jovem e, por si mesma, uma apresentação que foi hino de esperança no centro deste Átrio dos Gentios. À noite, “Missa Brevis” de João Gil pelos Cantete, uniu os “Gentios do Átrio” na Sé Catedral.
No fim destes dias, ressoavam no coração dos presentes as palavras de S. Paulo: “Já não há judeu nem grego, nem escravo nem homem livre. Já não és escravo, mas filho. E, se és filho, então também és herdeiro por Deus.” (Gl 3, 28a. 4, 7)
Por: Susana Vilas Boas, LMC