Na sequência da notícia do Fernando Félix e da sua esposa Maria José, publicada neste blog por altura das suas partidas para o Peru, recebemos agora um pequeno artigo em que partilham esta experiência, desvendando um pouco das muitas riquezas que por ali encontraram.
Agradecemos ao Fernando e à Maria José o testemunho missionário e a atenção que tiveram ao partilhá-lo connosco.
“Para aquelas gentes permanece, certamente,
a importância que sentiram por alguém de tão longe
ter querido estar com elas...”
Depois de quase um mês no Peru, regressámos a Portugal com um gosto agridoce na alma. De um lado, a alegria de rever os familiares e amigos, do outro, a saudade do povo que deixámos para trás e o sentimento de que o tempo foi muito pouco para realidades tão imensas. No entanto, aprendemos, numa reunião com os Leigos Missionários Combonianos peruanos, o muito que se pode fazer numa única semana, por exemplo no contexto da selva.
"Pretendíamos crescer e ajudar a crescer,
numa perspectiva de enriquecimento mútuo."
O nosso objectivo não era ir “salvar” os “coitadinhos”, os “desgraçadinhos”, que não têm nem sabem nada… Pretendíamos, isso sim, crescer e, dentro das nossas fracas possibilidades (de disponibilidade, dinheiro, etc.) ajudar a crescer, numa perspectiva de enriquecimento mútuo. O povo peruano é dono de uma história que remonta a 4700 anos antes de Cristo e, portanto, detentor de uma cultura bastante arreigada. Tem, contudo, necessidade de apoio para superar fragilidades específicas com que ainda lida a diversos níveis: ensino, saúde, vida eclesial...
Impressionou-nos a consciência que o mundo possui deste facto, pois encontrámos gente a fazer causa comum com os peruanos de países como França, Áustria, Itália, Austrália, Espanha, Portugal, Papua-Nova Guiné, Zâmbia, República Centro-Africana, Togo, Quénia, Filipinas, Polónia…
"Ali as contas fazem-se de outra maneira:
divide-se para multiplicar e reparte-se para somar."
Marcou-nos, igualmente, o sentido de comunidade que a gente do Peru patenteia. Poderíamos considerar legítimo que os mais pobres dos pobres guardassem para si o pouquíssimo que detêm e que se enrolassem na sua concha a carpir a sua pouca sorte. Mas não. Ali não é assim. As contas fazem-se de outra maneira: divide-se para multiplicar e reparte-se para somar. O resultado mede-se por pessoas mais felizes e muito menos “stressadas”!
Afinal, não é necessário ter isto, mais aquilo e ainda aqueloutro para atingir a paz interior e a felicidade… O que é preciso é aprender a andar neste mundo e nisso os peruanos têm muitas lições a dar-nos. Lições que se podem aplicar à nossa vida pessoal, conjugal, social e espiritual. É imperioso rever prioridades!
Na nossa mente e no nosso coração ficaram e ficarão muitas pessoas e coisas que vimos e ouvimos. Para aquelas gentes, permanece, certamente, a importância que sentiram por alguém de tão longe ter querido estar com elas em vez de ir para a praia ou visitar Machu Picchu.
Com o intuito de manifestar a universalidade da Igreja e da Missão, trouxemos para cada comunidade portuguesa que nos acolheu e apoiou, monetariamente e com orações, uma pequena cruz pintada com o quotidiano das populações.
Ninguém fica igual depois de uma experiência destas…
Por: Fernando Félix e Maria José