A Missão tambem doi... é assim o amor!
“sou uma convidada a participar nesta missão do Senhor...
por isso e tudo o mais dou graças a Deus!”
MONGOUMBA é uma missão no coração da selva, que faz fronteira com o Congo-Brazzaville e Congo democrático. Está ladeada por dois grandes rios, Lobaye e Oubangui, que desaguam no Rio Congo e que isolam a missão do resto do país. Mas Mongoumba também é uma fronteira missionária, já que é caracterizada por uma realidade de primeira evangelização, no contacto com o povo pigmeu-Aka.
Numa pastoral de proximidade com o povo pigmeu-Aka a nossa ação desenvolve-se sobretudo nas áreas da saúde e educação. Do meu trabalho no âmbito da sensibilização para a saúde faz parte a visita periódica aos acampamentos o que tento fazer sempre que posso, mas não faço com a frequência que gostaria.
“a experiencia deixa as suas marcas
devido à nossa impotência/incapacidade
perante as condições de vida desta gente tão simples
que vive e morre tendo como cama duas folhas de palmeira
e um pequeno pano para se cobrir.”
Nos últimos meses visitei alguns doentes que habitam em acampamentos próximos, mas a experiencia deixa as suas marcas devido à nossa impotência/incapacidade perante as condições de vida desta gente tão simples que vive e morre tendo como cama duas folhas de palmeira e um pequeno pano para se cobrir. Foi o caso de Telapé e da sua mãe já idosa, ambos doentes em estado grave, regressados ao acampamento depois de algumas semanas passadas na floresta. Fui chamada para os visitar devido à relação próxima de Telapé, com a missão, desde há alguns anos. Antes de partir tinha passado por nossa casa para vender uns pés de bananeira e pedir um pouco de sal. Tentei dissuadi-lo de ir, mas o apelo da floresta sobrepõe-se a tudo!
Fui encontra-los numa pequena cabana construída pelos vizinhos, deitados por terra em cima de duas folhas de palmeira; desidratados, magros e com feridas, algumas de lesões antigas de lepra. Devido ao estado em que se encontravam foi decidido, de acordo com o chefe do acampamento, não os transportar para o hospital. Lavamos e desinfetámos as feridas… deixei alguns medicamentos, soro para reidratação oral e arroz… regressamos a casa pedindo a Deus que não chovesse.
“Vivemos numa realidade dura que não podemos mudar,
mas gosto do país, gosto das pessoas, gosto do que faço”
Como tinha ficado combinado voltei passados dois dias. Mal desci do carro vieram dizer-me que o Telapé tinha morrido, mas não, ainda respirava, mas estava agonizante e morreu pouco depois; ao lado a mãe estava um pouco melhor, mas ainda em estado crítico. A família e vizinhos preparavam o hangar para as cerimónias fúnebres…
Vivemos numa realidade dura que não podemos mudar, mas gosto do país, gosto das pessoas, gosto do que faço.
Há dias bons e outros menos bons, por vezes muitas dúvidas quanto a este projeto, de que sou apenas um instrumento no terreno, sou uma convidada a participar nesta missão do Senhor... por isso e tudo o mais dou graças a Deus!
Élia Gomes, LMC na República Centro Africana