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Leigos Missionários Combonianos

Servindo a Missão ao estilo de S. Daniel Comboni

Leigos Missionários Combonianos

Servindo a Missão ao estilo de S. Daniel Comboni

Jornadas Missionárias 2015 - Missão sempre e em todas as frentes

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"A renovação das paróquias e dioceses só acontecerá

quando existirem iniciativas missionárias."

 

Foram os 18, 19 e 20 de setembro que marcaram o início de um novo ano de percurso missionário. Neste encontro, em Fátima, na casa dos MCCJ, estavam presentes o Carlos, a Carolina, o Franklim, o Flávio, a Rufina, a Paula, a Marisa, a Neuza e a Sandra e ainda dois novos elementos que iniciam este ano a sua caminhada com os LMC: a Maria José e o Mário.

 

Este encontro foi marcado pela participação dos LMC nas Jornadas Missionárias cuja temátca Ad Gentes e Igrejas particulares foi refletida em conferências, workshops, testemunhos e diálogo em assembleia.

 

Cito algumas das conclusões das Jornadas

  • Portugal está convocado para a missão, mas a resposta é ainda muito ténue.
  • É fundamental ter claro que a missão ad intra não anula a missão ad extra.
  • Os participantes alegraram-se ao verem em vídeo os primeiros passos da comunidade cristã criada na Mongólia há 20 anos. Este vídeo pode ser visualizado através deste link
  • O Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionária da Igreja, aprovado há 50 anos no fim do Concílio Vaticano II, apresenta desafios cruciais para hoje.
  • Assim:
    • A Igreja é missionária na sua natureza e, como tal, quando falta a missão, não há Igreja.
    • A finalidade da missão não pode ficar somente no anunciar ou no conhecer; é imprescindível fazer discípulos.
    • A renovação das paróquias e dioceses só acontecerá quando existirem iniciativas missionárias. 
  • As Obras Missionárias da Igreja (Infância Missionária, São Pedro Apóstolo, Propagação da Fé, União Missionária) são propostas que procuram envolver todo o povo de Deus na missão da Igreja. É preciso conhecê-las para entrarmos nesta rede universal de solidariedade espiritual e material.
  • A Igreja em Portugal celebra o 5º aniversário da Carta pastoral «Como Eu vos fiz fazei vós também». Para um rosto missionário da Igreja em Portugal que propõe a criação de Centros Missionários Diocesanos e Grupos Missionários Paroquiais. Estes caminhos levam as comunidades a descobrir que sair é uma riqueza e não um empobrecimento. 
  • A missão de alto risco foi-nos trazida, em primeira pessoa, pelo P. Paul Karam, libanês e Presidente da Caritas nacional. O Médio Oriente é hoje, para os cristãos, terra de mártires. Estamos comprometidos com este drama que gera milhões de refugiados. Salvar vidas é uma grande missão.

 

Pessoalmente, marcou-me a participação num workshop sobre Missão e Voluntariado. Confesso: ia desprevenida de expectativas. O workshop contou com o testemunho de elementos dos Jovens Sem Fronteiras (JSF) que partilharam connosco a sua experiência de 1 mês de Voluntariado Missionário no Brasil, com o projeto Ponte 2015. Fez-me ter uma visão diferente sobre as experiências missionárias de curta duração na medida em que permitem o discernimento pessoal sobre uma experiência missionária de longa duração. Além do mais, e apesar de serem de “curta duração”, permitem ao missionário que regressa para Portugal (neste caso) a sensibilização para determinados aspetos da sociedade, o adquirir de uma nova visão, uma visão mais simples, mais humilde, mais “ao estilo de Deus”, e, nesta medida, a missão não termina quando regressa a Portugal: simplesmente continua em Portugal no testemunho de que uma vida simples é possível, é feliz.

 

"Soube bem ter a mesa cheia com alguma diversidade

quer em termos de culturais, quer em termos de idade,

quer em termos de experiência missionária"

 

Marcou-me ainda o brilhante espetáculo à noite, particularmente a atuação do grupo “Jovem levanta-te” (parte da sua brilhante atuação encontra-se disponível aqui ). Marcou-me não só a atuação em si mas a história que levou ao nascer (e crescer) deste grupo: a história de uma jovem, hoje mulher, que cresceu com a avó que lhe ensinou valores cristãos. Uma jovem que se perdeu no caminho, tornando-se uma “mulher da noite”, citando-a no seu relato de vida que teve a coragem de contar de uma forma limpa – “nua e crua”. Mas Deus não dorme: assim como se perdeu, esta jovem encontrou-se. Cresceu e hoje, mulher, traduz Deus em dança e em arte.

 

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Por fim, senti que todo o encontro dentro da casa dos MCCJ foi uma excelente oportunidade de convívio, de partilha e de conhecimento da nossa comunidade, não só com os acima referidos, mas também com outros que participavam nas Jornadas e que foram por nós convidados para as refeições – 3 noviços combonianos (2 deles Moçambicanos) e 2 jovens que sentem dentro algo que os impele na caminhada missionária.

 

Soube bem ter a mesa cheia com alguma diversidade quer em termos de culturais, quer em termos de idade, quer em termos de experiência missionária – um ambiente de calor, um sentimento de estar em casa em família.

 

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Por: Carolina Fiúza

O amor como missão

 

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"Ser compassivo é andar no passo do outro."

 

Se há um ano me dissessem que, hoje, estaria a escrever-vos sobre a Missão de Carapira, dir-vos-ia que eram uns sonhadores e que esses eram terrenos férteis e distantes demais para mim. Mas Deus, como diz o Padre Jorge, sabe melhor aquilo que faz do que nós aquilo que queremos. E é tão verdade!

 

Antes de me lançar nesta arriscada aventura de tentar traduzir para palavras aquilo que durante este mês de agosto vivi em Carapira, quero que saibam que muitos sentidos se vão perder: as mãos que tocam e são tocadas; os cheiros que se estranham, mas depois se entranham, como o da terra, o do mercado, do lixo a queimar, do próprio ar quente e pesado; os olhos que veem rostos que parecem pedir que os descubramos e sorrisos que nos lembram que a vida é o maior dom de Deus; as bocas que cumprimentam a cada instante, mesmo quando não conhecem.

 

Agradecer, em primeiro lugar, aos missionários que já se encontravam em Carapira e que, além de serem discípulos de Cristo, foram anunciadores da nossa chegada e acompanhantes fiéis dos nossos passos, ao mesmo tempo que nos deixaram ser livres. Obrigada pela fé e confiança que depositaram em nós, sem a qual nenhum trabalho podia ser desenvolvido.

 

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A primeira dificuldade com que me deparei foi o tempo. Em Carapira, o tempo parece parado no tempo e, de facto, os dias corriam vagarosamente. As manhãs eram bem maiores do que as tardes e um encontro marcado às três, podia ser a qualquer hora depois da hora combinada. Achava eu que o tempo lá era demorado, porque estava completamente embrenhada no ritmo frenético a que o mundo ocidental nos impõe. Foi então que percebi que ser compassivo é andar no passo do outro. Se o outro vai mais devagar, caminho mais devagar com ele. Rapidamente nos deixamos levar por este tempo tão diferente do nosso e os dias encheram-se: com o estudo noturno na Escola Industrial; com o apoio às meninas do Lar das irmãs "Mãe de África"; com a apresentação da encíclica "Laudato Si" aos alunos da EIC, aos professores, à comunidade, aos padres e irmãs; preenchíamos os dias com momentos em que rezávamos o Terço nas comunidades e tentávamos aprender o macua, em que visitávamos os doentes, ou substituíamos quando algum professor faltava.

 

"Jesus mostrou-se na forma calorosa

com que este povo nos recebeu..."

 

Em Carapira descobri maravilhas mil. Numa das vezes em que tentava ajudar as meninas com o Inglês, e em que o tema era "famous people", tentei exemplificar com o Cristiano Ronaldo e foi então que percebi que caíra no tremendo erro de olhar a realidade com os meus olhos apenas. Não vos digo que não me espantei, mas depressa arranjei o exemplo certo, que sempre estivera ali e que elas conheciam tão bem: Jesus. Quem mais poderia ser tão à escala planetária quanto ele? Nós que íamos com uma vontade gigante de dar a conhecer Jesus aos outros, íamos, passo a passo, percebendo que ele já lá estava e que se revelava nas pequeninas coisas: nos abraços que recebi quando fui com a irmã Maria José levar as meninas a casa para passarem as férias; Jesus mostrou-se na forma calorosa com que este povo nos recebeu à chegada e aceitou que estes estranhos fizessem parte do seu quotidiano sem nunca nos fecharem a porta.

 

"Comovi-me quando me apercebi que há quem saia de casa,

três e quatro horas antes da missa,

para poder beber da palavra do Senhor."

 

Vi nestas crianças o rosto de Deus, porque elas, sem nunca o saberem, foram e são um exemplo para mim. Elas conseguem ser tão iguais e diferentes na sua pequenez. E quantas infâncias existem por esse mundo fora. Estas são as crianças, os heróis de palmo e meio, que antes de saberem falar, carregam baldes de água nas mãos e na cabeça. Como se ali, naquele exato momento, tivessem de suportar um fa(r)do que não é o delas. Estas são as crianças que carregam tijolos. As crianças que tomam conta de outras crianças como elas. São crianças que estão a quilómetros e quilómetros de casa para poderem andar na escola. Surpreendi-me, ainda, com a capacidade que tinham de correr para os nossos braços, com os sorrisos sinceros e contagiantes. E digo-vos que nunca, mas mesmo nunca, me poderei esquecer de como corriam rua acima e rua abaixo com carrinhos de mão feitos com garrafas de plástico e tampinhas, ou das corridas que faziam a empurrar os pneus com um pau.

 

Comovi-me quando me apercebi que há quem saia de casa, três e quatro horas antes da missa, para poder beber da palavra do Senhor. Não posso não me lembrar dos jovens, vocacionados, que percorreram quilómetros a pé e/ou de bicicleta para poderem estar num Domingo em formação. E fazem-no todos os meses. Aqui, às vezes, quando chove, ou faz frio, as crianças já não querem ir à catequese. E mesmo nós, pergunto-me, quantas razões já procurámos para desculpar as nossas faltas de missa? Perante isto, fica a desconfortável certeza de que quem quer, arranja maneira, quem não quer, arranja uma desculpa. Eles são a prova viva disso!

 

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Há gente, sim, gente como nós, que nos espanta por serem felizes com tão pouco. Tão pouco não...elas são felizes por, simplesmente, viverem. E que dom tão grande é este: a vida! E quão grandes são, imaginem vocês, estas pessoas por serem, profundamente, agradecidas e cumprirem os desígnios do Pai. No fim deste mês, sei que o meu contributo foi apenas uma gota num oceano de tarefas que faltam cumprir-se. Contudo, como li no mercado logo no primeiro dia em que lá fui:" A força parada não reproduz nada". Fico com a certeza que nos mexemos e que ser jovem e cristão, nos dias de hoje, é ser precisamente essa força que não pára nunca. É não nos deixarmos cair na indiferença para que a vida nos toque e sejamos capazes de fazer o que Deus espera de nós. Por pouco que seja, façamo-lo, porque se há coisa que aprendi por aqui, é que do pouco se faz muito. E o meu coração está tão cheio e agradecido por esta experiência.

 

Um "Koshukuru" (Obrigado) do tamanho da distância que separa Portugal e Moçambique é pouco para tudo aquilo quanto pude viver neste mês. Até a um futuro regresso, fica um oceano imenso de saudades e a vontade de novos reencontros. E sabem uma coisa? Eu acredito, sinceramente, naquela velha máxima do "Principezinho" que diz que "aqueles que passam por nós, não vão sós nem nos deixam sós". Hoje, sou uma sortuda por todos os encontros que tive nesta terra que é um paraíso perdido no meio do nada. Hoje, sou mais rica por ser um bocadinho de todos aqueles com quem partilhei este mês.

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Por: Mariana, Fé & Missão

Testemunho LMC

 

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"Em Moçambique tive o Sol na minha mão!"

 

 

O essencial é invisível aos olhos”! Nunca esta frase me fez tanto sentido como depois de Moçambique... Quando nos atrevemos a abrir o nosso coração aos convites de Deus, arriscamo-nos a descobrir o verdadeiro sentido da felicidade. De facto, foram tantas as graças recebidas, tanto o amor vivido e partilhado, que esta experiência me moldou a vida, me encheu o coração de tal forma que os meus pensamentos, desejos e sonhos se dirigem todos eles para Moçambique.

 

Durante todo o ano que antecipou este mês de missão em Moçambique, fomo-nos preparando com obras de caridade, formações intensas, encontros íntimos com Deus através da oração e, portanto, as expectativas eram elevadas e a ansiedade imensa. A verdade, porém, é que nunca pensei que este mês fosse vivido com tanta intensidade, com tanta entrega, com tanto amor… Fraca fé a minha, sei-o agora! Afinal eram imensas as pessoas que ficaram a rezar por nós, eram muitos os corações sinceros que por nós dirigiam as suas preces a Deus.

 

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Os sete membros grupo Fé e Missão que aterraram na missão de Carapira, em Moçambique, só têm motivos para louvar a Deus pelas graças que lhes foram concedidas.

 

"Oh meu Deus, que saudades!

Apetece-me chorar de alegria… "

 

Em Carapira, acolhidos como família pelos vários membros da família comboniana aí presentes, desde o início que nos sentimos acolhidos, integrados. Logo na primeira noite tivemos um encontro de apresentação entre todos, o que nos permitiu conhecer um pouco do trabalho realizado, bem como para afirmar a nossa vontade em trabalharmos intensamente nesse mês. Sim, sempre foi uma preocupação de todo o grupo entregar-se por inteiro, ou, nas palavras de Fernando Pessoa, pormos tudo quanto somos no mínimo que fazemos. E não ficámos sem resposta. Logo no dia seguinte tivemos uma reunião em que nos foram dirigidas várias propostas, seja na Escola Industrial de Carapira, no trabalho pastoral, no lar das irmãs, bem como junto da comunidade. Recordo-me que após essa reunião o grupo começou a dividir tarefas, a especificar as tarefas de cada um, com uma intensidade tal que preenchemos um quadro, no qual anotávamos sempre todas as nossas actividades. Sentia-me sempre alegre por ver aquele quadro cheio. Tenho plena consciência de que isso só foi possível pela confiança que depositaram em nós desde o início, mas também sei que ao longo do mês tudo fizemos para corresponder às expectativas.

 

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Para ser sincero, apesar de querer dar o máximo de mim, de querer trabalhar intensamente, sempre tive a consciência de que um mês seria muito pouco para nos podermos entregar sem reservas. A verdade é que me enganei. Claro que a dificuldade da língua e a adaptação dificultaram um pouco, mas também os sorrisos, a simpatia, a confiança depositada em nós e o acolhimento fantástico com que nos presentearam, tornou tudo muito mais fácil. Desde o início que o irmão Luís permitiu que nos entregássemos sem reservas na escola, seja com trabalhos administrativos, seja em acções com os alunos; o padre Firmino a permitir que o acompanhássemos nas visitas às comunidades; as irmãs a permitirem que as auxiliássemos com as explicações às meninas do lar, bem como a irem connosco visitar os doentes e idosos da comunidade e os Leigos Missionários Combonianos que sempre nos acompanharam de perto e com quem trabalhámos com prazer.

 

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O trabalho das irmãs e dos irmãos e padres já conhecia minimamente pelos vários testemunhos que tenho ouvido. Mas confesso que desconhecia o grande trabalho que é feito pelos Leigos Missionários Combonianos. A sua dedicação na Escola Industrial de Carapira, nas aulas, nos serviços administrativos, na enfermaria, no refeitório, bem como no acompanhamento das actividades extra curriculares é deslumbrante. Mas, para além disso, o trabalho pastoral nas comunidades, o trabalho na paróquia, na formação dos animadores, o trabalho da Comunidade Justiça e Paz em prol das comunidades, deixaram-me deslumbrado. Sinceramente, pela primeira vez, fiquei mesmo com o desejo de ser Leigo Missionário Comboniano.

 

"Fraca fé a minha, sei-o agora!

Afinal eram imensas as pessoas

que ficaram a rezar por nós."

 

A nível pessoal, este mês foi muito importante para mim. Descobri muitos dos meus limites, quando o cansaço procurava vencer-me, fui desafiado a saber viver em comunidade, a saber ser tolerante, a procurar resolver as questões pelo diálogo, a analisar-me interiormente. Agora que penso nisto tudo, alegro-me pelo que pude crescer. Mas, para além de todos estes desafios fui tão feliz… Foram as Eucaristias que tanto me encheram o coração, com músicas e danças que expressavam tanto, foram os sorrisos das crianças, a alegria das pessoas das comunidades, a família comboniana em Carapira a quem agora chamo de amigos e amigas, as meninas do lar que tanto me fizeram sorrir, os jovens da Escola, os jovens… Oh meu Deus, que saudades! Apetece-me chorar de alegria…. Apetece-me voltar… Quero voltar!!!

 

Em Moçambique senti o Sol na minha mão! O Sol da alegria, o Sol que ilumina a nossa vida, o Sol que nos aquece, que aquece o nosso coração, o Sol que nos permite trocar olhares, o Sol que nos faz viver intensamente o dia! Em Moçambique tive o Sol na minha mão!

 

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Por: Pedro Nascimento

Um sonho realizado!

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"Um missionário ama verdadeiramente..."

 

Missão em África, um sonho. Algo que já há muito eu queria viver e finalmente consegui. Tinha 17 anos, quando comecei a sonhar com África, quando comecei a querer conhecer mais o “mundo” que é a Missão. No mês de agosto, parti como elemento do grupo Fé e Missão, com mais quatro jovens e dois missionários da Família Comboniana, partimos para Moçambique, missão de Carapira. Sempre pensei que missão era ir levar Jesus aos outros, mas quando cheguei a Carapira Ele já lá estava e de braços abertos para receber-me e dizer-me que me escolheu e que aquele povo era d’Ele.

 

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Foi uma experiência indescritível, mas tentando: eu encontrei um povo acolhedor, generoso, alegre, cheio de sorrisos. Um povo sem pressas, onde o tempo é um pormenor.

 

As pessoas têm sempre tempo para falar, param para cumprimentar o outro. Não se sente agitação, se o meu vizinho está mal, eu não fico indiferente.

 

Encontrei uma equipa de missionários espetacular que faz um trabalho de excelência, que diariamente se entrega de corpo e alma, ao povo de Carapira.

 

Irmãos, irmãs, Sacerdote e Leigos missionários Combonianos, dão o seu melhor como educadores, formadores. Acompanham dezenas de jovens, sem olhar qual a crença que vivem. Acompanham as comunidades, tentando ser presença de Cristo no meio do povo. Conheci de perto o trabalho dos Leigos missionários, que trabalham apoiando as diversas vertentes na Escola Industrial, onde têm um papel muito ativo. Os Leigos estão presentes como alguém que educa, cuida, como alguém que ama, pois os jovens que frequentam a Escola Industrial, deixaram as suas casas para poderem estudar. Os leigos são presença amiga e até maternal. Os leigos auxiliam também a pastoral, ajudam crianças e jovens a descobrir Jesus.

 

Com toda a comunidade missionária que conheci e ao lado de quem trabalhei e tanto aprendi, constatei que um missionário ama verdadeiramente, é capaz de amar, é capaz do amor incondicional. Guardo comigo cada momento que vivi, agradeço a confiança que depositaram em mim e nos meus colegas.

 

"Impossível ficar indiferente..."

 

O maior desafio que enfrentei ao longo deste mês foi sem dúvida o viver em comunidade.

Toda a experiência foi marcante, impossível ficar indiferente, gostei muito de todo o trabalho que conseguimos fazer com os jovens da Escola Industrial, sobre a Laudato Si, adorei ter estado com as meninas do lar, gostei muito de ter trabalhado com jovens da comunidade, “Salvar Jovens com Jovens”. Marcou-me muito uma conversa, que ocorreu logo nos primeiros dias, quando cheguei ao lar, para trabalhar com as meninas auxiliando e esclarecendo pequenas dúvidas, de português e matemática.

 

A Nelson, uma menina de 13/14 anos, frequenta a sétima classe, não se aproximava muito de mim, ficava sempre a observar-me, mas sempre um pouco distante, quando me aproximei para tentar acabar com as reservas dela, ela disse-me: “Não quero ser tua amiga, pois vais-te embora daqui a uns dias e eu nunca mais vou ver-te.” Isto cortou-me o coração fiquei parada, queria dizer algo, mas fiquei entalada, queria dizer àquela menina que não ia ser assim, mas estaria a mentir, pois era verdade, eu tinha viagem marcada. Aceitei a escolha dela, resolvi não insistir. E durante os 15 dias que trabalhei no lar, falávamos pouco, estudávamos juntas, descobríamos as palavras novas e difíceis, fazíamos os trabalhos de casa.

 

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“Professora agora vai esquecer-se de mim?”

 

Mas, eu sei que mexi com Nelson, tenho a certeza, ela sorria e até brincava quando eu pronunciava algo mal em macua, ou quando eu dizia que tinha medo de ficar doente com malária. E chegou o dia em que tive de me despedir dela e de todas as outras meninas. E Nelson perguntou-me:

“Professora agora vai esquecer-se de mim?”

Ela é perita em deixar-me “entalada”, é linda, tem uns olhos grandes, bonitos, vivos, e estavam cheios de água e eu só pensei como é que vou esquecer isto, Senhor? Não vou. Abracei-a e disse-lhe não me vou esquecer de ti.

 

Algo que também me marcou muito foram as Eucaristias, celebram com muita alegria, cantam, batem palmas, são fortes, muito bonitas. A mulher moçambicana, não posso deixar de vos falar dela, é uma lutadora, trabalhadora, fica com as tarefas mais complicadas. Tem um papel fundamental.

 

Isto é um bocadinho do que vivi, foi uma boa experiência, que quero muito repetir.

Foi muito importante para mim, em cada dia tive acontecimentos marcantes, que já mais vou esquecer.

E não se esqueçam os sonhos realizam-se. Só temos de fazer 5%, Deus faz o resto.

 

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Sofia Coelho

Missão + Camarate

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"...para o ano haverá mais Missão +.

Vemo-nos lá?"

 

 

Estou em crer, para já, que o título sugere o sítio onde decorreu a atividade, apenas isso. Passadas algumas semanas da Grande aventura, “Missão + Camarate”, por si só, não faz justiça às emoções e sentimentos experimentados em tão pouco tempo.

 

O desafio era simples e os planos objetivos, aparentemente. No plano temporal tratava-se de uma semana (de 1 a 9 de Agosto). Já o plano espacial reservava-se à paróquia de Camarate (bairros das Loureiras, Torre, Quinta das Mós e Fetais). O plano temático, esse, prometia - “Missão: um projeto de felicidade”.

 

«Projeto» … Por projeto entende-se algo flexível, passível de alterações e ajustes constantes – aliás, é difícil esquecer que “Deus escreve direito por linhas tortas” e, por isso, convém contar com a Sua providência! Era fundamental ir com o coração disponível.

 

"Embora existisse um programa para cada um dos dias,

o que acontecia em cada momento,

nunca fazia parte dos nossos planos..."

 

O plano de trabalho era, também, aparentemente simples: às oito horas reuníamos para a oração da manhã seguida do pequeno-almoço. Por volta das dez horas os grupos de trabalho juntavam-se para que, uma vez preparados partirem para os bairros. No final da manhã voltávamos para o almoço e, já durante a tarde, retomávamos as atividades com as crianças. No fim do dia voltávamos ao local onde estávamos alojados – era a hora dos banhos, jantar, alguma conversa e oração da noite. À noite, tínhamos ainda a oportunidade de ouvir alguns testemunhos missionários e, após os mesmos, existia um momento de partilha entre todos os grupos, onde se conversava daquilo que se passara nos bairros, aspetos positivos e negativos, sugestões, dúvidas, etc.. Aproveitávamos também as orações para confiar ao Senhor alguns das nossas ânsias e receios e pedir a Sua intercessão. Noutros momentos ainda houve outras oportunidades de encontro – fosse para a celebração da eucaristia na e com a comunidade, fosse na partilha de refeições com pessoas que generosa e amavelmente as ofereciam ao grupo.

 

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“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” – como é tão verdade! Era incrivelmente bela a riqueza em cada partilha e a abundância de sentimentos e emoções experimentados em cada minuto, em cada hora, em cada dia. Entre músicas, corridas, pinturas, anedotas, danças, jogos tradicionais, “futeboladas”, guitarradas, apanhadas, escondidas, … aqueles eram dias fartos, plenos! Quantas lágrimas se soltavam entre alegrias! Quantas gargalhadas! Quantas amizades ficaram!

 

Embora existisse um programa para cada um dos dias, o que acontecia em cada momento, nunca fazia parte dos nossos planos – em cada lugar, em cada atividade, em cada rosto, em cada companhia, em cada oração, em cada canção, em cada dança, em cada

refeição, em cada… em cada nova coisa, mesmo que repetida infinita vezes, tudo tinha uma capacidade espantosa para nos surpreender. E como era bom!

 

“Unidos a Jesus amamos o que Ele ama”

 

Mas nem tudo era tão belo e romântico assim… Num ou outro momento em que aquela verdade, bem “nua e crua”, pudesse embriagar e incomodar, mascarada até nalguma revolta, as palavras do Santo Padre – “Unidos a Jesus amamos o que Ele ama” - faziam sentido e davam confiança.

 

Naqueles dias tive a certeza de que a experiência de Deus também acontece na frustração. Seria mais fácil fechar os olhos a algumas coisas, escondermo-nos de outras, agarrarmo-nos àquelas que tão bem já conhecemos e às quais estamos habituados e seguros… seria fácil querer, nas palavras de Karamozov, «devolver a Deus o bilhete de entrada para um mundo onde as crianças sofrem» mas, como nos lembra Francisco, “fechar os olhos diante do próximo torna-nos cegos de Deus”.

 

Há dias uma teóloga dizia que atualmente, já não há palavras belas que transformem as pessoas – “temos cada vez mais recursos e, por isso, as palavras já não seduzem. O terreno da missão passa por experiências gratificantes. E, na medida em que forem gratificantes, vou querer perpetua-las”, continuava. Explicou ainda que por «gratificantes» entendiam-se aquelas que criam autênticos “momentos de céu, momentos de paz”.

 

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Dou-me conta agora do quão justo é, na verdade, o título deste texto. Ali, em Camarate, tornou-se claro, para mim, que não nos podemos centrar apenas nos «problemas» sociais, mesmo que este tipo de sofrimento grite à consciência moral de cada um de nós – embora seja importante, não basta. Há outras dores ocultas e feridas abertas à espera de sararem e não tenho o direito de professar a fé em Deus se lhes virar as costas. A verdade é o caminho e a vida – se tivesse fechado os olhos à verdade de todas aquelas pessoas não teria sido transformada no Missão +. E, se é verdade que, àqueles que foram transformados, a fé se torna num novo modo de ver, acredito que esta experiência foi gratificante, um “momento de céu” e me faz querer mais.

 

Fica o desafio: para o ano haverá mais Missão +. Vemo-nos lá?

 

Até lá, farei dos lugares onde me encontro Camarate, e das pessoas com quem estou, os nomes e os rostos que guardo comigo – porque a felicidade é muito mais uma forma de ir do que um lugar onde se chega (com todas as alterações e Providência necessárias!).

 

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Por: Marisa Almeida.