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Leigos Missionários Combonianos

Servindo a Missão ao estilo de S. Daniel Comboni

Leigos Missionários Combonianos

Servindo a Missão ao estilo de S. Daniel Comboni

A viagem da Vida...

 

 

 res.jpgCorrem os últimos dias da minha passagem por Londres, onde cheguei sensivelmente há mês e meio. Revejo-me neste preciso momento, enquanto escrevo, numa cena quase digna de filme: estou sentada numa estação do metro à espera daquele que me levará a casa, «a olhar para ontem» ou para «tudo» e para «nada». Vou antecipando mentalmente a viagem para a Polónia, cada vez mais próxima, mas, em simultâneo, não consigo evitar lembrar-me dos dias «por cá».

Nisto tudo, quase sem me dar conta, a expressão de aviso gravada no chão, «mind the gap[1]», chama-me à atenção. Guardar espaço…Quanto espaço é suficiente para que estejamos seguros? A partir de quando e até quando guardamos este espaço? À espera de quê? Do «momento certo»? Para ir onde? 

Repetidamente o Papa Francisco lembra-nos que somos convidados a sair da nossa comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias. Devemos sentir-nos impelidos a querer ir mais longe, mais perto, mais alto, mais fundo. A peregrinar mais.  

 

Estas semanas foram e continuam a ser essenciais neste tempo de preparação para a Missão. Para além da oportunidade de estar em lugares em que nunca estivera, de conhecer pessoas novas, do treino e aprendizagem da língua, etc. … tenho aprendido muito sobre a vida em comunidade e o espaço. Tenho aprendido que este tempo, este em que vivemos, qualquer que ele seja, é o tempo da aprendizagem. Somos aprendizes e herdeiros de um amor como o de Cristo. Ainda que por vezes possa parecer difícil, ainda que hajam momentos em que a admiração converge para a impaciência, tenho maturado a ideia que amar a Deus significa aceitar com paciência e atenção os encontros com os outros como mensagens cheias de sentido, ainda que me sinta incapaz de as compreender logo e devidamente.

 

Recordo que no primeiro dia de aulas, num dos panfletos que me foram dados pouco depois da inscrição, estava escrito num deles, com grande destaque «o presente é agora e o futuro começa agora mesmo». De facto, se não nos demitirmos estamos sempre a começar. Cada dia que o Senhor nos dá é uma bênção e um sinal de fé em nós. Nesta comunidade tenho aprendido sobre a importância de construir uma vida que não seja uma vida fechada e intransigente, a não me ficar pela linha do seguro e do cómodo, ainda que a espera e a paciência façam parte.  

 

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Confio que a minha viagem não começou aqui, nem vai acabar tão pouco aqui. Nas verdadeiras viagens, na grande viagem, não creio que as perguntas sobre o que fazemos interessem muito. Viemos, estamos e vamos. E então faz sentido a viva e concreta expressão das palavras dos Livros Santos: não temos no mundo uma morada estável. O cenário do mundo é passageiro, tudo tem uma dimensão provisória.    

 

Heidegger comparou a viagem da vida a uma pessoa que caminha numa grande floresta, onde é escuro, onde chove, onde há tempestades e nos podemos perder do caminho. Surge um relâmpago e o caminho torna-se claro por um instante. Depois escurece novamente e tudo o que a pessoa pode fazer é continuar na direção que conseguiu ver, iluminada pelo relâmpago. É também este o nosso desafio: continuar a caminhar, confiar que Deus é fiel, lembrar a forma como a luz dos momentos-chave em que Deus se manifesta nas nossas vidas.

 

 

 

[1] [advertência para os passageiros guardarem espaço de segurança entre o metro e a plataforma, permanecendo atrás da linha]

 

Por: Marisa Santos

Alberto e Carmen Testemunham a sua Vocação Missionária Laical

 

Quarta-feigtr.jpgra, 26 de Outubro de 2016

O Alberto de la Portilla e a sua esposa Carmen Tomás, leigos missionários combonianos (LMC), deram uma entrevista ao programa televisivo espanhol “Testigos Hoy” no contexto do Dia Mundial das Missões, celebrado no passado domingo. São cerca de 12 minutos sobre estes dois testemunhos concretos, sobre o que ambos fizeram na Bolívia, em Moçambique… e fazem ainda hoje, em Espanha e a nível internacional, no movimento dos LMC, seguindo a vocação carismática e a espiritualidade de São Daniel Comboni, que tinha como lema “Salvar África com África”.

Os leigos, solteiros ou casados, motivados pela fé em Jesus Cristo e, sentindo-se parte da Igreja, dão testemunho com a sua vida e comprometem-se, social e pastoralmente, para transformar o mundo, tendo como ponto de partida a promoção humana, a justiça e a paz. Portanto, vivem integrados na Igreja local, fazendo animação missionária nas paróquias e no contexto social em que vivem, comprometendo-se com as realidades de pobreza e marginalização que existe à sua volta e apoiam os projectos dos LMC que se encontram em missão, nos mais diversos países do mundo.

 

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Os LMC vivem a missão como resposta à sua vocação, como opção de vida que impregna toda a pessoa, e estão disponíveis para o serviço missionário no mundo, fazendo-se presentes no meio daqueles povos que ainda não conhecem ou conhecem pouco a Boa Nova do Evangelho, e trabalhando ao serviço dos mais pobres e abandonados, mirando ao seu desenvolvimento humano integral, em estreita colaboração e co-responsabilidade com a Família comboniana.

Partilhar o “ser missionário” em Santa Eufémia

 

Sento-me num baloiço e Ele balança-me. É muito positivo o balanço que faço deste fim desemana de animação missionária. O baloiço pende sempre para o lado de Deus. Ele, em cada regresso do baloiço, torna a empurrar-me, dando-me a liberdade para avaliar o que foi bom e o que poderia ter sido melhor. Mas, contas feitas, balanços e contrabalanços, de coração pleno é como me sinto ao terminar este fim de semana de partilha com esta minha pequena (mas grande) paróquia de Santa Eufémia (em Leiria).

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E este partilhar, este animar a minha comunidade em conjunto com a Família Comboniana, foi nada mais que dar a conhecer experiências missionárias, um estilo de vida, o nosso estilo de vida; dar oportunidade a crianças, jovens, adultos e graúdos de (re)pensar a sua vida, a missão que lhes foi concedida por Deus aqui nesta Terra. E isto é também “Salvar África com África”. É possibilitar que cada um explore o maravilhoso potencial que tem dentro de si, que lhe foi concedido por Deus, e que, por vezes, cai no esquecimento dos dias, das rotinas, dos invernos e desertos que cada um vai atravessando.

Certo é que muitos foram os momentos nestes dois dias em que senti que tudo poderia estar a correr melhor. Falhas de comunicação, alguma desorganização, alguns momentos nos quais depositei expectativa para que decorressem melhor. Mas que foram deliciosos pela confiança que entregámos a Deus e que, por si só, faz crescer a nossa relação com o Pai e os nossos laços, a nossa união e a nossa confiança entre Família Comboniana. Confiar em Deus é não exigir nada, nada esperar e deixar que Ele nos surpreenda. Porque surpreende. Este animar a minha comunidade foi (e é) uma partilha que vai mas que também volta, dá frutos. Deu frutos. Pequenos mas saborosos. Percebemos que, para cada pessoa que se cruzou connosco neste fim de semana, seja ela mais nova ou mais velha, a nossa partilha tocou de alguma forma, deixando pequenos pontos de luz. E são estes pequenos pontos que permitem iluminar a terra, tal como as estrelas iluminam o céu.

Para mim, pessoalmente, a proximidade entre a Família Comboniana e a minha comunidade local reforça o meu sentimento de que “Salvar África com África” é também possível aqui. Dar oportunidade de relação entre a minha comunidade paroquial e a Família Comboniana é para mim motivo de emoção: é ver (“as minhas”) pessoas em relação, em partilha de vida, a cruzarem caminhos tão diferentes; é sentir que estas relações são dádivas de Deus e por Ele abraçadas; é perceber que a minha família não se sente abandonada por mim no meu “sentir-me chamada à missão ad gentes”; é ver neles o apoio, o consentimento, o amor para com o carisma de São Daniel Comboni e o acolhimento deste mesmo carisma no coração; é sentir-me (cada vez mais) parte desta família e querer que ela cresça, avance, dê frutos; é sentir-me responsável por cuidar dela, preservá-la a ela e às pessoas que nela estão contidas.

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E por tudo isto e todas estas emoções que afluem em cada um dos meus poros, estou grata a Deus e a cada um de vós que se fez presente física ou espiritualmente neste fim de semana de Animação Missionária na minha paróquia.

Tenhamos presente esta “coragem” que o Papa Francisco nos pede, “coragem para nos abrirmos a todos, (…) coragem para dar força aos passos vacilantes, para retomar o gosto de gastar-se pelo Evangelho, de readquirir confiança na força que a missão transporta consigo, (…) coragem para anunciar, não necessariamente para converter”. Coragem neste animar as nossas paróquias, unidos como família, permitindo que nelas se abram portas à missão que cada um transporta em si.

Por:Carolina Fiúza

MISSÃO É UMA «IMENSA OBRA DE MISERICÓRDIA»

Na sua mensagem o Papa Francisco, convida os cristãos a olhar «a missão ad gentes como uma grande, imensa obra de misericórdia quer espiritual quer material» e pede-lhes que exerçam «o serviço materno da misericórdia» ajudando «os povos que ainda não conhecem o Senhor a encontrá-Lo e a amá-Lo». 

O Papa Francisco fala ainda da importância e da necessidade «do testemunho do amor de misericórdia» no contexto das «injustiças, guerras, crises humanitárias» que aguardam, hoje, por uma solução. «Os missionários sabem, por experiência, que o Evangelho do perdão e da misericórdia pode levar alegria e reconciliação, justiça e paz», conclui.

 

Unidos ao Papa neste que é o Dia Mundial das Missões, meditemos sobre as suas palavras e em oração, rezemos por todos os missionários e missionárias que amam e amando levam o Evangelho a todos os povos...

 

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA FRANCISCO
PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES
2016

 

Tema: Igreja missionária, testemunha de misericórdia

 

Queridos irmãos e irmãs!

O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que a Igreja está a viver, proporciona uma luz particular também ao Dia Mundial das Missões de 2016: convida-nos a olhar a missão ad gentes como uma grande, imensa obra de misericórdia quer espiritual quer material. Com efeito, neste Dia Mundial das Missões, todos somos convidados a «sair», como discípulos missionários, pondo cada um a render os seus talentos, a sua criatividade, a sua sabedoria e experiência para levar a mensagem da ternura e compaixão de Deus à família humana inteira. Em virtude do mandato missionário, a Igreja tem a peito quantos não conhecem o Evangelho, pois deseja que todos sejam salvos e cheguem a experimentar o amor do Senhor. Ela «tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho» (Bula Misericordiae Vultus, 12), e anunciá-la em todos os cantos da terra, até alcançar toda a mulher, homem, idoso, jovem e criança.

A misericórdia gera íntima alegria no coração do Pai, sempre que encontra cada criatura humana; desde o princípio, Ele dirige-Se amorosamente mesmo às mais vulneráveis, porque a sua grandeza e poder manifestam-se precisamente na capacidade de empatia com os mais pequenos, os descartados, os oprimidos (cf. Dt 4, 31; Sal 86, 15; 103, 8; 111, 4). É o Deus benigno, solícito, fiel; aproxima-Se de quem passa necessidade para estar perto de todos, sobretudo dos pobres; envolve-Se com ternura na realidade humana, tal como fariam um pai e uma mãe na vida dos seus filhos (cf. Jr 31, 20). É ao ventre materno que alude o termo utilizado na Bíblia hebraica para dizer misericórdia: trata-se, pois, do amor duma mãe pelos filhos; filhos que ela amará sempre, em todas as circunstâncias suceda o que suceder, porque são fruto do seu ventre. Este é um aspeto essencial também do amor que Deus nutre por todos os seus filhos, especialmente pelos membros do povo que gerou e deseja criar e educar: perante as suas fragilidades e infidelidades, o seu íntimo comove-se e estremece de compaixão (cf. Os 11, 8). Mas Ele é misericordioso para com todos, o seu amor é para todos os povos e a sua ternura estende-se sobre todas as criaturas (cf. Sal144, 8-9).

A misericórdia encontra a sua manifestação mais alta e perfeita no Verbo encarnado. Ele revela o rosto do Pai, rico em misericórdia: «não somente fala dela e a explica com o uso de comparações e parábolas, mas sobretudo Ele próprio a encarna e a personifica» (João Paulo II, Enc. Dives in misericordia, 2). Aceitando e seguindo Jesus por meio do Evangelho e dos Sacramentos, com a ação do Espírito Santo, podemos tornar-nos misericordiosos como o nosso Pai celestial, aprendendo a amar como Ele nos ama e fazendo da nossa vida um dom gratuito, um sinal da sua bondade (cf. Bula Misericordiae Vultus, 3). A primeira comunidade que, no meio da humanidade, vive a misericórdia de Cristo é a Igreja: sempre sente sobre si o olhar d’Ele que a escolhe com amor misericordioso e, deste amor, ela deduz o estilo do seu mandato, vive dele e dá-o a conhecer aos povos num diálogo respeitoso por cada cultura e convicção religiosa.

Como nos primeiros tempos da experiência eclesial, há tantos homens e mulheres de todas as idades e condições que dão testemunho deste amor de misericórdia. Sinal eloquente do amor materno de Deus é uma considerável e crescente presença feminina no mundo missionário, ao lado da presença masculina. As mulheres, leigas ou consagradas – e hoje também numerosas famílias –, realizam a sua vocação missionária nas mais variadas formas: desde o anúncio direto do Evangelho ao serviço sociocaritativo. Ao lado da obra evangelizadora e sacramental dos missionários, aparecem as mulheres e as famílias que entendem, de forma muitas vezes mais adequada, os problemas das pessoas e sabem enfrentá-los de modo oportuno e por vezes inédito: cuidando da vida, com uma acrescida atenção centrada mais nas pessoas do que nas estruturas e fazendo valer todos os recursos humanos e espirituais para construir harmonia, relacionamento, paz, solidariedade, diálogo, cooperação e fraternidade, tanto no setor das relações interpessoais como na área mais ampla da vida social e cultural e, de modo particular, no cuidado dos pobres.

Em muitos lugares, a evangelização parte da atividade educativa, à qual o trabalho missionário dedica esforço e tempo, como o vinhateiro misericordioso do Evangelho (cf. Lc 13, 7-9; Jo 15, 1), com paciência para esperar os frutos depois de anos de lenta formação; geram-se assim pessoas capazes de evangelizar e fazer chegar o Evangelho onde ninguém esperaria vê-lo realizado. A Igreja pode ser definida «mãe», mesmo para aqueles que poderão um dia chegar à fé em Cristo. Espero, pois, que o povo santo de Deus exerça o serviço materno da misericórdia, que tanto ajuda os povos que ainda não conhecem o Senhor a encontrá-Lo e a amá-Lo. Com efeito a fé é dom de Deus, e não fruto de proselitismo; mas cresce graças à fé e à caridade dos evangelizadores, que são testemunhas de Cristo. Quando os discípulos de Jesus percorrem as estradas do mundo, é-lhes pedido aquele amor sem medida que tende a aplicar a todos a mesma medida do Senhor; anunciamos o dom mais belo e maior que Ele nos ofereceu: a sua vida e o seu amor.

Cada povo e cultura tem direito de receber a mensagem de salvação, que é dom de Deus para todos. E a necessidade dela redobra ao considerarmos quantas injustiças, guerras, crises humanitárias aguardam, hoje, por uma solução. Os missionários sabem, por experiência, que o Evangelho do perdão e da misericórdia pode levar alegria e reconciliação, justiça e paz. O mandato do Evangelho – «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (Mt 28, 19-20) – não terminou, antes pelo contrário impele-nos a todos, nos cenários presentes e desafios atuais, a sentir-nos chamados para uma renovada «saída» missionária, como indiquei na Exortação Apostólica Evangelii gaudium: «cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (n. 20).

Precisamente neste Ano Jubilar, celebra o seu nonagésimo aniversário o Dia Mundial das Missões, promovido pela Pontifícia Obra da Propagação da Fé e aprovado pelo Papa Pio XI em 1926. Por isso, considero oportuno recordar as sábias indicações dos meus Predecessores, estabelecendo que fossem destinadas a esta Opera todas as ofertas que cada diocese, paróquia, comunidade religiosa, associação e movimento, de todo o mundo, pudessem recolher para socorrer as comunidades cristãs necessitadas de ajuda e revigorar o anúncio do Evangelho até aos últimos confins da terra. Também nos nossos dias, não nos subtraiamos a este gesto de comunhão eclesial missionário; não restrinjamos o coração às nossas preocupações particulares, mas alarguemo-lo aos horizontes da humanidade inteira.

Santa Maria, ícone sublime da humanidade redimida, modelo missionário para a Igreja, ensine a todos, homens, mulheres e famílias, a gerar e guardar por todo o lado a presença viva e misteriosa do Senhor Ressuscitado, que renova e enche de jubilosa misericórdia as relações entre as pessoas, as culturas e os povos.

Vaticano, 15 de maio – Solenidade de Pentecostes – de 2016.

 

FRANCISCO

 

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“A missão não se faz sem amor!”

Élia Maria Cabrita Gomes nasceu a 29 de janeiro de 1955 e é natural de Paderne (Albufeira). É enfermeira, aposentada. Em 2006 teve o seu primeiro contacto com o continente Africano num projeto de sete meses com a Assistência Médica Internacional (AMI) na República Democrática do Congo. Em 2011 partiu com os Leigos Missionários Combonianos (LMC) por dois anos para a República Centro Africana. Acabou por ficar cinco anos nesta missão.

 

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Quando tinha apenas 16 anos surgiu uma oportunidade de fazer uma experiência de dois meses em Angola que considera ter sido “o clic para realizar um sonho”. Infelizmente o seu pai não estava de acordo e não partiu. Ainda enquanto estudante de enfermagem pensava partir mas em 1976 ao terminar o seu curso começa a trabalhar no Hospital de Faro onde ficou até à data da sua aposentação, casa e tem uma filha. Em 2006 tem finalmente a sua primeira experiência e parte por sete meses para a República Democrática do Congo com a AMI. “Foi uma experiência de apenas sete meses que serviu de estímulo e aumentou o meu desejo de voltar a África, de sair do meu comodismo e ir ao encontro de outros povos”,partilha. Começou a fazer voluntariado no Lar do Centro Paroquial de Paderne, a sua paróquia de origem, e descobre os LMC através da revista Além-mar que encontrou nos seus primeiros dias de trabalho. “Fiz a formação com os LMC (2008 – 2010), conheci Comboni, o seu lema "Salvar África com África" fazia todo o sentido, assim como sair, ir ao encontro dos mais pobres e abandonados, contribuir para a melhoria da sua qualidade de vida e favorecer a promoção humana”, diz-nos.

 

Foi por dois anos e ficou cinco!

 

Em Fevereiro de 2011 chegou a Bangui (capital da República Centro Africana – RCA, a Mongoumba, por um período de dois anos, “sem expectativas preparada para aceitar e dar o que a missão me pedir”. Acabou por ficar cinco anos “com experiências de vida muito intensas. Os primeiros tempos foram de aprendizagem: ver e ouvir, aprender a estar, aceitar e respeitar, enfim dar os primeiros passos numa cultura e hábitos tão diferentes dos nossos”, diz-nos. Sobre o seu destino Mongoumba diz-nos que é a sede de um dos dez concelhos do distrito de Mbaiki: “é uma vila com cerca de 8.000 habitantes, situada a 190 km de Bangui, em plena floresta equatorial. Faz fronteira com a República Democrática do Congo e o Congo Brazaville. O concelho de Mongoumba tem uma população de 25.000 habitantes de várias etnias contando entre elas o povo pigmeu Aka. Os pigmeus são descriminados pelo resto da população que os utiliza como mão-de-obra barata, são os mais desfavorecidos da sociedade, vivem em vários acampamentos dispersos na floresta, quase todos habitam em casas de folhas, são poucos os que fazem casas de barro e de tijolo ainda menos, alimentam-se do que recolhem da floresta. Os seus bens resumem-se ao que podem transportar quando deixam o acampamento e partem, mais para o interior da floresta, para as campanhas de pesca, recolha de mel, lagartas... Produtos que vendem ou trocam por sal, panos para se cobrirem e pequenos adornos. Raramente têm dinheiro e o pouco que têm nunca é suficiente para pagar os cuidados de saúde. A missão de Mongoumba tem como prioridade a evangelização do povo pigmeu e grande parte das nossas actividades têm em vista a melhoria das condições de vida deste povo e a sua integração social. Numa pastoral de proximidade e trabalhando na sensibilização e promoção da saúde visitei muitos acampamentos, visitei doentes, desparasitei crianças e nos dois primeiros anos, com a colaboração do exército francês, fizemos várias campanhas de tratamento do pian (doença contagiosa e incapacitante). Fiz muitos quilómetros a pé na floresta... Numa realidade dura que não é possível mudar, apenas retocar com um pouco de criatividade e ter esperança que as sementes lançadas deem fruto. Após vários anos de trabalho, em que a Missão serviu de ponte entre este povo e o Centro de Saúde público, o resultado começa a ser visível e gratificante, os pigmeus ainda são os últimos a ser atendidos nas consultas, mas são consultados e quando necessitam de internamento ficam nas mesmas enfermarias que o resto da população. Durante cinco anos uma das minhas actividades foi de vigilância para com os pigmeus internados, para que não fossem esquecidos, porque é muito fácil esquecer o tratamento ou dar a injeção a quem não tem voz! A ajudar-me nesse trabalho sempre contei com a preciosa colaboração dos dois agentes de saúde que trabalham no Centro de Reabilitação física da Missão. Muito do nosso trabalho é despertar consciências porque toda a gente é pessoa, em Sango “Zo kwe Zo” e como tal deve ser tratada e respeitada.” Conta-nos que após o golpe de estado em março de 2013 o país mergulhou no caos vivendo sob o domínio das armas durante três anos. A pobreza e o sofrimento da população atingiram níveis nunca antes imagináveis. Apesar das muitas ONG’s no terreno, a Missão Católica é quase a única instituição que continua, de forma constante, a trabalhar na defesa e promoção da dignidade deste povo tão sofrido, desenvolvendo actividades nas áreas da educação, saúde, promoção humana, pastoral, justiça e paz... Nos últimos dois anos o meu grande investimento foi na despistagem e tratamento das crianças mal nutridas, na sensibilização e formação dos pais sobre higiene e nutrição. Um trabalho desgastante tanto física como psicologicamente, mas tendo a compensação em cada criança que recuperou e voltou a sorrir. Tive a possibilidade de ter a trabalhar comigo uma boa equipa, gente da terra, disponível e interessada”.

 

Partir sem expetativas, regressar cheia de sonhos

 

Termina dizendo que apesar de ter chegado em 2011 sem expetativas, regressa em 2016 com o sonho de um dia regressar à missão da RCA e encontrar “casas que não são arrastadas pela chuva, com telhados que não são levados pelo vento; crianças saudáveis, bem alimentadas que têm livros e vão a escola; estradas sem buracos (mesmo as estradas de terra) e meios de transporte que aproximem aldeias, vilas e cidades; pigmeus que conhecem os seus deveres e são capazes de lutar pelos seus direitos; uma legislação nova em que as “bruxas” não vão a tribunal, mas sim os que as denunciam e atacam; centros de saúde e hospitais a funcionar com médicos e enfermeiros com formação, onde se fazem operações, análises e exames, onde há nome e causa para as doenças, deixando de haver doenças místicas; sonho que vou encontrar um país onde os pilares da educação, os professores, vão a escola e têm mais do que o 6º ou 9º ano de escolaridade; e, porque “Deus ama o seu povo”, tenho fé que o ódio que ainda existe vai dar lugar a uma paz duradoura num clima de amor e tolerância. É um sonho e uma esperança que as riquezas do país não vão só para os bolsos de alguns, mas passem a servir para melhorar a qualidade de vida de todos. A missão não se faz sem amor! Gosto do país e gosto das pessoas, um povo que sofre, mas continua a rir, cantar e dançar. É o meu povo! Os mais pequenos são os que guardo com mais carinho no meu coração, recordar as crianças, os seus sorrisos puros e sinceros vai ser calor para as noites frias de inverno”.

 

 

Texto por Catarina António, FEC – Fundação Fé e Cooperação

1.º Encontro de Formação - A palavra como Con-Vocação e Assembleia Nacional LMC

No fim-de-semana de 15 e 16 de Outubro de 2016 os Leigos Missionários Combonianos (LMC) reuniram-se em Viseu onde aconteceu a Assembleia Nacional e o segundoencontro formativo subordinado ao tema: “A palavra como con-vocação” ministrado pela Missionária Secular Comboniana Paula Clara. 

 

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Enquanto do 1.º Econtro de Formação, decorria também ao mesmo tempo a Assembleia Nacional LMC, durante esta, houve oportunidade de refletir o caminho percorrido neste ano e perceber quantas maravilhas o Senhor operou em nós. Relembrámos a chegada da Márcia de Moçambique e da Élia de República Centro África. Recordámos a partida da Maria Augusta para República Centro África e da Marisa que se encontra a aprender a língua no Reino Unido. Por cá, muitos foram os marcos no caminho refletimos particularmente sobre a organização da Assembleia Europeia LMC na qual todos nos empenhámos e responsabilizamos, na qual todos trabalhámos desde cedo não deixando entregue ao acaso nenhum pormenor. Houve ainda reflexão e posterior redistribuição ou eleição dos mais diversificados ministérios pelos quais os LMC são responsáveis tais como à equipa coordenadora, à equipa formativa, economia e tantas outras tarefas necessárias que com que o movimento LMC continue em frente.

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Todo este caminho reflete o que o Papa Paulo VI reza na constituição dogmática Luz dos Povos (7) “assim como todos os membros do corpo humano, apesar de serem muitos, formam no entanto um só corpo, assim também os fiéis em Cristo (cfr. 1 Cor. 12,12). Também na edificação do Corpo de Cristo existe diversidade de membros e de funções. É um mesmo Espírito que distribui os seus vários dons segundo a sua riqueza e as necessidades dos ministérios para utilidade da Igreja”. Somos pessoas diferentes, com diferentes ministérios e responsabilidades. Caminhamos juntos aqui e além-fronteiras rezando e entregando-nos em nome de Deus seguindo carisma Comboniano.

O encontro de formação não poderia estar mais enquadrado com a assembleia. Enquanto uns refletem acerca da vocação, outros refletem sobre o que a sua vocação levou a concretizar. Neste caminho, há momentos, em que já não chega caminhar juntos temos vontade de nos abandonar à divina providência comprometendo-nos. Por isso no domingo, familiares e amigos juntaram-se à família LMC para o compromisso da Neuza, da Rufina e da Paula.

 

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 O caminho faz-se caminhando numa comunidade cujo cerne é Cristo. E depois de uma jornada formativa e de discernimento quisemos rezar com a vida o que rezamos diariamente no Pai Nosso “seja feita a vossa vontade”. Escolhemos seguir o nosso caminho de felicidade ainda que sabendo de antemão que iremos sofrer, rir, chorar, amar, cair, levantar-nos, desorientar-nos e encontrar-nos. Aqui sentimo-nos em casa, os abraços são prolongados, as gargalhadas ecoam pela sala e tantas vezes rezamos com lágrimas e silêncios porque as palavras não chegam para exprimir o amor de Deus. Aqui reconhecemos que não há distâncias que nos impeçam de permanecer juntos. Aqui tal como Santo Agostinho fazemos do Amor a nossa maior oração. Juntos somos as mil vidas para missão que São Daniel Comboni sonhou. Somos o sonho de Comboni e ousamos seguir os seus passos fazendo com que hajam muitas mais mil vidas para a missão.

 

Por: Paula Sousa

Assembleia Nacional dos LMC Portugal

No passado fim-de-semana realizou-se em Viseu a Assembleia Nacional dos LMC Portugal.
Entre outros assuntos da ordem de trabalhos, foi eleita a nova Equipa Coordenadora para o próximo triénio.

Fica assim constituída:
Carlos Barros - Coordenador
Élia Gomes
Márcia Costa
Padre Francisco Medeiros - nomeado pelo Conselho Provincial dos MCCJ, a partir de 15 de Setembro de 2016, como acompanhante para o próximo triénio
irmã Carmo Ribeiro - nomeada pela sua superiora provincial como assessora.

 

Os LMC felicitam a nova Equipa Coordenadora e desejam votos de bom trabalho, não podendo deixar de agradecer todo o trabalho realizado pela Equipa Coordenadora que cessou.

 

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