Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Leigos Missionários Combonianos

Servindo a Missão ao estilo de S. Daniel Comboni

Leigos Missionários Combonianos

Servindo a Missão ao estilo de S. Daniel Comboni

Actividade Prática para Voluntários Missionários da FEC

35058175_1057780981035933_5432161424937844736_n.jp

Já lá vai algum tempo… nós sabemos. Porém, os frutos da actividade prática de Missão para Voluntários Missionários proposta pela FEC – Fundação Fé e Cooperação – estão ainda bem presentes nas vidas das nossas LMC Maria José Martins e Nelly Gomes, que tiveram a possibilidade de nela participar. Esta actividade decorreu entre os passados dias 7 e 10 de Junho na Casa de Saúde do Bom Jesus (Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus) em Braga. Hoje partilhamos a entrevista que fizemos à Maria José, sendo patentes em todas as suas respostas a sua emoção e orgulho em ter feito parte de uma actividade como estas.

Carolina Fiúza - Maria José sabemos que estiveste 4 dias em Braga na actividade prática de Missão para Voluntários Missionários em Braga. Em que consistiu a atividade prática? O que faziam? Como era o programa diário?

Maria José - Ora bem, nós quando chegámos lá fomos organizados em grupos de dois pertencentes a ordens diferentes e decidiram mandar-nos para vários serviços: serviços com acamados que tinham problemas profundos. Eu fiquei com um jovem e fui parar ao serviço em que estavam pessoas que tentaram o suicídio, pessoas com graves problemas familiares e que ficaram afectadas mentalmente. Era um serviço com variadíssimas faixas etárias: tínhamos uma senhora com 90 anos que me encheu o coração porque era a senhora dos abraços e dos beijinhos e eu também sou de abraços e beijinhos. Então ela abraçava toda a gente e, quando ia à missa, abraçava todos; procurava todos nós do grupo para poder dar abraços e dizia «Eu gosto tanto de si! Eu gosto tanto de si!». Então, essa foi uma senhora que ficou marcada para todo o grupo, embora fosse do meu serviço. Nós levantámo-nos e tínhamos o pequeno-almoço às 8h e às 8h30 íamos para os serviços. Cada qual para o seu serviço, para darmos os pequenos almoços, estarmos presentes pelo menos nos pequenos almoços dos utentes.

Depois, durante a manhã nos estávamos com os utentes e com eles íamos conversando. Eles vinham ter connosco. Nós estávamos na parte só das mulheres. Haviam pessoas que já lá estavam há 20 anos, outras que não sabiam há quanto tempo estavam porque, depois de fazerem os seus tratamentos, as irmãs averiguavam o ambiente familiar, e quando o ambiente não é positivo, optam por manter lá as pessoas. Quando as pessoas já estão curadas, ou pelo menos, apresentam a capacidade de serem auto-suficientes, são mandadas para dois apartamentos (salvo o erro) que existem na casa das Irmãs Hospitaleiras, e é-lhes fornecida uma quantia financeira e então tentam administrar o seu dinheiro, organizar-se e viver sozinhas. Claro que tudo isto é orientado pelas Irmãs que vão estando super atentas, até que verificam se a pessoa está ou não apta para viver sozinha, para ser auto-suficiente. Se consideram que sim, que está apta, as pessoas são enviadas para outros apartamentos que as Irmãs têm em Braga, na cidade, aí já de uma maneira completamente auto-suficiente: tiveram a aprovação e vão tentar reiniciar uma vida com orientação das irmãs mas algo mais ligeiro.  Esta situação também me impressionou bastante pela positiva pois demonstra o cuidado das Irmãs com os utentes na vida social e vê-se que elas se preocupam muito para além das 4 portas da Casa do Hospital.

A nota positiva vai também para as instalações. As instalações eram muito boas, com o necessário, com lugares para sentar para todos, com mesas, com televisões. E sobretudo, as instalações muito limpas com cheiro agradável e viam-se instalações muito cuidadas, com muita luz em comparação com outros. Vê-se que ali se preocupam com o proporcionar o bem estar aos utentes.

Às 11h da manhã havia missa e então nós voluntários oferecíamo-nos para acompanhar utentes que quisessem participar na Eucaristia. Para elas eram sempre muito bom e participavam sempre muitíssimo bem. E havia alegria na missa: haviam cânticos, uma irmã que tocava viola e piano. Então eram sempre missas animadas!

Depois tínhamos hora marcada de forma rígida para o almoço: ajudávamos os utentes com o almoço, íamos ajudando de forma discreta sempre sem eles se aperceberem muito porque estávamos sempre no sentido de promover a auto-suficiência. Mas, de vez em quando, cortávamos a carne a uma pessoa mais “aflita”, íamos fazendo assim essas pequenas coisas, íamos vendo se estava tudo bem em cada mesa; ajudávamos também no levantamento dos pratos para a copa e, quando terminavam as refeições dos utentes, nós, comunidade de voluntários, fazíamos as nossas refeições. De maneira que nos encontrávamos aí. Era rígido o horário, tínhamos que estar todos na mesa à mesma hora, e aí fazíamos já um pouco de partilhas mas, mal acabássemos de almoçar, íamos tomar o café e seguíamos para os serviços respectivos para continuarmos a cuidar, a ajudar, a participar no dia-a-dia dos utentes. Mais do que uma vez promovemos desenhos, algumas actividades, conforme eles estivessem ou não interessados. Uns participavam, outros não.

As irmãs têm ateliers de pintura, de tricô, crochet, trabalhos vários de artesanato que vendem. No nosso caso, que tínhamos as utentes que eram praticamente todas independentes e poderiam trabalhar nestas actividades, durante a tarde tivémos oportunidade de ir visitar e ver os trabalhos que faziam. Faziam coisas lindsissímas! E era assim que ocupavam os seus tempos.

À noite nós fazíamos reunião depois do jantar e aí aproveitávamos para falarmos das nossas experiências diárias, falarmos das nossas impressões, o que sentimos, o que não sentimos. Também fazíamos jogos entre nós organizados pela Catarina Lopes António, com objectivos precisos. Os nossos serões eram bastante agradáveis! Acabávamos por nos recolher bastante cedo para o dia seguinte.

35049813_1057780854369279_2421482546937200640_n.jp35077770_1057780847702613_4326644161571717120_n.jp

CF - Que dificuldades sentiste?

MJ - Dificuldades: nós não tivemos porque o sistema estava muito bem organizado. Então, não haviam dificuldades. Se precisávamos de alguma coisa havia sempre quem nos ajudasse. De uma forma geral, quando comentávamos entre voluntários, ninguém fazia referência a qualquer tipo de dificuldade. Antes pelo contrário: sempre nos tentaram facilitar tudo, a nossa presença e sempre foram todos muito agradáveis connosco. Fiquei encantada com a jovialidade das irmãs, independentemente da sua idade: aqueles sorrisos lindos de quem vive feliz por aquilo que está a fazer e isso impressionou-me e tocou-me muito.

CF - Sentiste alguma divergência entre os vários voluntários, não só na sua diferente forma de agir enquanto pessoas, mas também enquanto membros de carismas e grupos missionários diferentes?

MJ - Nunca tivemos divergências! De vez em quando havia um elemento que eu não conhecia bem e que acabava por pensar de uma forma um pouco diferente de todos nós voluntários. Mas, de qualquer maneira, conversávamos e estava tudo certo. Não houve qualquer tipo de problemas.

34985090_1057780961035935_1874146122486775808_n.jp35050235_1057780997702598_5320840128938115072_n.jp 

CF - O que mais te marcou ? Que sentido(s) teve para ti esta atividade?

MJ - A última noite, uma noite muito marcante para todos nós. Fomos convidados pela comunidade religiosa para jantarmos com elas. Então foi realmente um jantar bastante interessante. Desde o ambiente em si – estávamos todos muito próximos uns dos outros -, as irmãs com aquele sorriso maravilhoso! No fim, a irmã mais velha, responsável pela comunidade, resolveu presentear-nos com um fado que foi das coisas melhores que podia ter assistido. A irmã pediu para ser à média luz para não lhe vermos a placa dos dentes (risos). Era uma pessoa cheia de sentido de humor. E então começou a cantar um fado sobre a andorinha. Foi muito engraçado porque, para além de ela ter uma voz esplêndida e a canção ser muito bonita, (a canção) era ela a falar com uma andorinha e, às tantas, ela dizia “E a andorinha respondeu-me…” e toda a comunidade das irmãs fazia de andorinhas e davam uma resposta. Muito bem cantado! Para nós foi muito agradável e foi uma noite excelente que nenhum de nós esquecerá!

Em relação a mim, Maria José, como é que isto tudo me tocou, o que é que eu trouxe no meu coração sobre isto? Eu assisti a uma coisa que me impressionou imenso e que eu resumo numa frase: o respeito pela dignidade humana. As pessoas eram tratadas com um respeito profundíssimo. Eu já trabalhei em lares e já vivi essa experiência e muitas vezes me questionava porque lá não havia uma higiene oral suficiente. E na Casa das Irmãs Hospitaleiras aconteceu uma coisa muito engraçada. Eu fiquei uma hora cidrada a assistir a isto (que pode parecer algo sem muita importância mas, para mim, teve muita importância): as utentes depois do pequeno-almoço dirigiam-se à casa de banho onde estava uma funcionária e, todas em fila, iam-se aproximando dela; dentro de um armário haviam as escovas e copos todos com a respectiva identificação; estavam também umas caixas identificadas onde, no dia anterior, as utentes deixavam as suas placas com água e a funcionária acrescentava água e pastilhas tipo corega. No momento da lavagem dos dentes, a funcionária entregava a respectiva placa. No armário tinham cremes hidratantes para a pele e a funcionária aplicava creme a TODAS as pessoas que lá passavam – de todas as idades – desde a mais jovem, até à de 90 anos. Depois, a seguir, tinha um perfume que punha a todas: todas estavam perfumadas. E tinha uma zona onde haviam bijuterias que elas escolhiam, não de uma maneira exagerada mas sim de uma maneira que as embelezava. Depois, a funcionária ainda as penteava e haviam as mais novas que pediam à funcionária que lhes fizesse uma trança. E ela, tranquilamente, fazia a trancinha à pessoa que lhe pedisse! E aí é que eu vi realmente o valor que dão à dignidade. Ninguém está habituado a ver as pessoas em hospitais psiquiátricos cheirosas, cuidadas… por norma, não acontece nada disto! E então, isto era feito diariamente. Haviam aquelas que tinham os seus próprios perfumes, cremes. Mas havia o geral, para todas, para as que não tinham. Eram todas muito cheirosinhas e cuidadas e isso a mim marcou-me muito, este cuidado com aquelas pessoas que, possivelmente, noutras circunstâncias não teriam isto. E não importava o tempo – a funcionária estava lá para cuidar delas, demorasse o tempo que demorasse. O respeito pela dignidade humana foi aquilo que mais me marcou nesta experiência de 4 dias.

35118978_1057780871035944_1596184429024247808_n.jp35146420_1057781087702589_888364146377097216_n.jpg 

Depois ali senti que o amor ao próximo é realmente a solução para todas as coisas, para todos os problemas. É o amor que move o mundo. Eu vivenciei isso. A minha vontade não era de vir embora; era de ficar lá! Porque, aqueles 4 dias em que démos… é sempre aquela história: nós damos, mas recebemos muito. Então, havia aquela troca e só faz sentido, e só aconteceu e só continuará a acontecer por causa do amor com que Deus nos encheu o coração e que nós queremos dar ao próximo. E portanto eu continuo a achar que o amor é que move o mundo, é que move montanhas. O amor que nos é concedido por Deus e que nós seguimos através de Jesus Cristo, esse amor é que é o mais importante… e até provas em contrário, será esse o meu lema de vida. De todas as suas formas incondicionais e que o Senhor assim me permita ter alguém a quem possa passar esse amor.

CF - Como avalias toda a atividade?

MJ - Senti-me uma privilegiada por ter vivido esta experiência. Deixou-me profundamente feliz: já não me lembrava de me sentir tão feliz como me senti. Sinto-me tranquila também por ver que há pessoas como as irmãs Hospitaleiras que chegam aos mais necessitados com tanta felicidade e transmitindo tanta alegria, tanto amor que dá para pensar que, apesar de tudo, há quem faça a diferença e obrigada Senhor por isso. Abençoa quem faz a diferença e permite que possamos desempenhar sempre o que nos pedes e que nos ajuda-nos a descobrir verdadeiramente o que requeres de nós.

CF – Muito obrigada Maria José! E apesar de, esta ser uma entrevista em que apenas oiço a tua voz, reconheço o sorriso nos teus lábios enquanto respondes e a o brilho nos teus olhos… e a saudade que fica dessa semana que, acredito, te marcou profundamente, especialmente porque o cuidado ao próximo é a tua área de trabalho e sei que já viste realidades muito distintas das que presenciaste nesta semana! Parabéns pela tua coragem em aceitares este convite de Deus e também à FEC pela iniciativa e possibilidade de permitir aos seus formandos uma semana tão frutuosa como esta.

Relações humanas e vida em grupo - 4ª Formação FEC

IMG-20180501-WA0005.jpg

Relações humanas e vida em grupo, foi o tema da formação da FEC no fim-de-semana de 14 e 15 de Abril de 2018, ministrado pela formadora Paula Silva.

O tema foi muito interessante uma vez que nos fez reflectir sobre vários temas musicais e nos colocou questões com perguntas sobre a letra das mesmas projectando-as para a nossa vida e para a missão.

Por exemplo; a “Lista” de Oswaldo Montenegro na qual colocou 10 perguntas referentes a nós que nos fizeram relembrar o passado e reflectir no presente.

Outra foi os “Contentores” do Xutos & Pontapés com 7 perguntas que nos fez reflectir sobre a nossa partida para a missão, questionando-nos sobre o que levávamos, o que deixávamos, o que conhecíamos do lugar para onde íamos e como achávamos que nos iríamos sentir à chegada para recomeço de vida partindo do zero com o objectivo da possibilidade de se poder ir mais além e estabelecendo os objectivos da nossa permanência no voluntariado.

IMG-20180501-WA0007.jpg

Ouvimos o testemunho da Susana Querido que esteve 6 meses em Angola e pertence ao grupo missionário Ondjoyetu.

Terminamos com a Eucaristia seguida do almoço e partida para as nossas casas.

IMG-20180501-WA0002.jpg

 

LMC Nelly Gomes

 

 

 

Uma formação que nos falou ao coração

FEC.jpgQuando falamos do que está cheio o coração, somos capazes de tocar o coração dos outros com uma intensidade tal, que nem nos apercebemos. De facto, para além de uma grande formação sobre o voluntariado e cooperação para o desenvolvimento, La Salete, formadora do encontro, foi-nos contanto histórias sobre a sua vida em missão fantásticas, deixando-nos, na minha opinião, uma grande mensagem: é extremamente importante colocarmo-nos no lugar do outro, procurar compreender determinadas situações para que possamos relacionarmo-nos com maior abertura, respeito e amor pelos povos com quem nos cruzamos em missão.

 

O segundo encontro de formação da FEC realizou-se em Fátima, nos dias 17 e 18 de Fevereiro e foi bastante intenso. Durante a formação tivemos oportunidade de discutir sobre as desigualdades no Mundo; a riqueza e o desenvolvimento concentrados em poucos países; os conceitos de cooperação e desenvolvimento; os paradigmas do desenvolvimento; a educação para o desenvolvimento e para a cidadania global e, ainda, tivemos oportunidade de ter uma formação intensa sobre metodologia e análise de projetos.

Partilho convosco alguns pontos que achei curiosos: o conceito de Felicidade Interna Bruta que foi um conceito criado pelo rei do Butão para contrapor ao Produto Interno Bruto e que teve bons resultados; o “fairphone”, um telemóvel fabricado sem prejudicar ou escravizar todos os trabalhadores que o produzem. Ficando mais caro, a venda deste telemóvel não pretende ter lucro à custa da exploração de muitos trabalhadores, mas o seu trabalho tem uma justa remuneração, assim como as lojas de comércio justo.

No fim da tarde de sábado vimos o filme Shotting Dogs e, posteriormente, fizemos um cine fórum onde analisámos várias condutas e atitudes das personagens do filme, o que se traduziu numa partilha de ideias e de sentimentos muito bela. À noite tivemos o testemunho missionário de um casal pertencente aos Leigos da Boa Nova, que esteve durante de um ano na diocese de Pemba, em Moçambique.

É sempre uma alegria participar nestes encontros de formação, partilhar com imensas pessoas o carisma missionário e sentir a diversidade da Igreja. O facto de o encontro ser em Fátima e de ter a oportunidade de ir rezar na capelinha das aparições, ainda tornou este encontro mais especial. Quem bom é poder caminhar e crescer nestas formações que nos alargam horizontes e nos ajudam a ir compreendendo os caminhos da missão.

 

LMC Pedro Nascimento

1ª sessão de Formação FEC - Voluntariado Missionário e Espiritualidade

FEC.JPG

"Voluntariado Missionário e Espiritualidade” foi o tema da 1ª sessão de formação para voluntários da FEC, que se realizou nos passados dias 13 e 14 de janeiro de 2018 na Casa de Saúde do Telhal (Sintra). Nela participaram alguns LMC e formandos. E assim deixamos o testemunho da Ana Raposo, participante desta formação da FEC.

No 1º encontro da FEC aprofundámos a temática " Alegria do Evangelho" que tem como mentor o Papa Francisco. Alegria do Evangelho chama-nos para uma igreja em saída para cuidar da casa comum, uma igreja que contempla o mundo na alegria, no amor e no louvor promovendo assim o bem comum e o cuidar do próximo. Fala-nos de um procurar- te em ti, o descobrir um " tu" que me faz um eu, ter como missão acolher a vontade de Deus e levar Deus que já lá está, acender a chama. Essa alegria, esse amor, foi vivido nesse fim de semana, na formação e na homilia de domingo. O brilho e a alegria que imanava o pároco e os utentes crentes apesar das suas limitações e do formador Juan Ambrosio que nos fez ver com outra perspectiva enquanto nos dissipávamos de algumas dúvidas.

Deus o amante, Jesus o amado, Espírito Santo o amor.

Deus é Amor, Alegria.

Ana Raposo

O(s) sentido(s) do desenvolvimento

No último fim-de-semana alguns de nós participamos no 2º encontro da FEC. Este encontro debruçou-se essencialmente sobre os Projectos de Cooperação para o Desenvolvimento.

Neste encontro participaram mais uma vez muitos voluntários missionários dos mais variados institutos missionários e ONGD. Sinal de que o espírito santo continua a soprar no coração de cada um que esteve este fim-de-semana em Aveiro e lhe diz “Vai. Parte. Lá é o teu lugar!”. Curioso, também, é que apesar de nos encontrarmos poucas vezes, e de sermos mais do que aqueles que somos em cada um dos grupos em que participamos, estabelece-se entre nós uma relação bastante próximo: nas conversas; nas cumplicidades criadas, nas risotas gerais, nas partilhas que fazemos seja nos corredores, seja à mesa do almoço ou jantar… Seja a beber o café da nossa amiga Márcia, que se revelou uma verdadeira “taberneira”.

A manhã de sábado foi dedicada à apresentação de alguns conceitos teóricos de desenvolvimento, bem como a evolução do conceito ao longo do século XX. Desde o desenvolvimento sustentado – conceito puramente economicista, passando pelo desenvolvimento sustentável assente no paradigma ambientalista que surgiu entre o Clube de Roma em 1972. Até ao desenvolvimento integrado que procura criar as sinergias indispensáveis para que possa ser possível no terreno aplicar “todos” os desenvolvimentos.
No início da tarde de sábado e como era de desenvolvimento que falávamos não podíamos passar sem falar dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). A Sandra da FEC fez-nos uma exposição interessante sobre estes objectivos e falou-nos da importância da sociedade civil se comprometer, igualmente, para que possa ser possível alcançar estes objectivos até 2015. Num resumo breve pretende-se com os ODM tornar o mundo melhor para todos aqueles que vêem a cada dia as suas condições de vida degradarem-se. Entre estes destaca-se a situação dos milhões de pessoas que vivem com menos de 1 dólar por dia; a situação das crianças que não têm acesso às condições de saúde mínimas; bem como a situação das mulheres e mães.

A parte mais interessante do encontro chegou na tarde de sábado. A construção de projectos de cooperação para o desenvolvimento. Tivemos a orientar esta parte do encontro a Joana que já tem uma longa experiência na construção deste tipo de projectos. Depois de nos ter explicado de forma introdutória os principais conceitos e metodologia(s) de projecto fez-nos arregaçar as mangas e pôr as mãos na massa. Divididos em grupos tivemos que apresentar aos restantes grupos o “nosso” projecto de cooperação para o desenvolvimento que iríamos desenvolver junto da comunidade onde estávamos em missão. Gostei, pessoalmente, desta forma de trabalho! Tivemos, nós próprios, nos diferentes grupos de discutir e chegar a um consenso sobre quais as áreas prioritárias de intervenção na nossa comunidade, sobre como fazer o projecto, que público-alvo escolher, etc. Foi uma experiência interessante! Só espero que quando todos nós chegarmos à missão saibamos ouvir a comunidade local e perante todas as necessidades que nos vão apresentar, saibamos optar pela necessidade mais premente.

No serão de sábado estivemos todos reunidos para alcançar os ODM no tempo determinado. Nele tivemos de mostrar os nossos dotes artísticos através do desenho e da mímica. Entre muita risota, precipitação, ohhh’s e ai’s… Lá chegamos ao fim! Foi um jogo interessante. Espero que em 2015 também possamos dizer que o cenário mundial mudou em relação àquilo que é hoje, 6 anos e 351 dias antes da data prevista para o alcance desse mundo mais justo, democrático e igualitário.

No domingo falamos sobre o que nos leva a partir. Lemos a carta que a Maria escreveu ao António e a partir dela olhamos para dentro de nós mesmos e analisamos as reais motivações e as ideias motivações para partir. No trabalho de grupo que realizamos, no meu grupo, todos concordamos em relação às motivações ideias para partir. As motivações reais escrevemo-las a um amigo ou familiar. A escrita é a memória das coisas, por isso teremos para recordar amanhã aquilo que escrevemos ontem sobre a nossa partida.

Peço a Deus que nos acompanhe sempre nesta caminhada e que nos alerte se houver alguma luz vermelha de alerta no cockpit das nossas motivações reais para partir. Amén.

 

 

 

Bárbara

Ecos do 4º encontro do VMP

Neste fim-de-semana participei em mais um encontro de formação da FEC, desta vez, em Coimbra. Foi com enorme satisfação e também grande orgulho que recebi todos os participantes na “minha” casa, a Casa dos Combonianos. Toda a gente gostou muito dela, porque estavam habituados a ficar em grandes casas, com algum luxo e um pouco impessoais. Pelo contrário, a “nossa” é mais pequena, mais modesta, mais acolhedora e tem um toque muito pessoal que a torna mais humana. O encontro foi subordinado ao tema “Relações Humanas e Vida em Grupo” e o formador convidado foi o Dr. José Alfredo Martins, Director de Centros da Comunidade Vida e Paz. Mas durante estes dois dias, fez questão absoluta de ser apenas o Zé Alfredo! Um pouco resumidamente, a Comunidade Vida e Paz dá apoio material e espiritual a todos aqueles que se encontram desamparados socialmente, tal como os toxicodependentes, os deficientes, os alcoólicos e os sem-abrigo. O objectivo consiste em desenvolver neles, a sua dignidade humana e a capacidade de realização pessoal. Para isso proporciona-lhes um programa terapêutico e formação profissional, tendo em vista a sua futura reintegração na sociedade.

O tema já era interessante, mas o Zé Alfredo, consegui torná-lo ainda mais apelativo, graças ao seu poder de comunicação e à empatia que conseguiu criar connosco. Outra “arma” poderosa que ele usou variadas vezes, foi a dinâmica de grupos. Durante o encontro, falou-se de muita coisa, nomeadamente, o que significa comunicar, como se processa a comunicação, quais os canais de comunicação, a importância dos cinco sentidos no acto de comunicar, a rede de relações, o impacto que uma acção nossa pode ter nos outros e vice-versa, a disponibilidade para ir ao encontro dos outros, a abertura para compreender e respeitar os outros, o espírito de grupo, alguns factores de fortalecimento ou desgaste de um grupo, as necessidades individuais e colectivas, maneiras de passar uma mensagem, gestão de conflitos interiores e exteriores, etc.


“Apagar a vela do teu companheiro, não fará com que a tua brilhe com mais intensidade.”

 


 

Os momentos mais marcantes deste encontro foram os testemunhos que ouvimos e o filme que vimos. Ouvimos dois testemunhos, completamente opostos, mais igualmente enriquecedores. Primeiro a Marlene Almeida, falou da sua curta – seis meses - experiência em Angola com os Leigos para o Desenvolvimento. Infelizmente, correu muito mal devido tanto a factores internos (da própria comunidade de Leigos) como a factores externos (um vírus mortal), que a “obrigaram” a interromper abruptamente a missão que estava a desenvolver naquele país. O segundo testemunho foi dado pela Karina Oliveira da Juventude Hospitaleira que esteve um ano em Timor-Leste nas montanhas. Foi muito bonito porque ela reviveu realmente tudo o que nos contou, porque só regressou a Portugal há quinze dias. Ainda está meio “nas nuvens”, a tentar readaptar-se a esta nova realidade! Felizmente, a experiência da Karina correu muito bem e foi um testemunho apaixonante.

O segundo momento mais marcante, foi o filme que vimos – Feliz Natal (Joyeux Noel no original). Trata-se de um filme francês, baseado em factos verídicos e que nos conta um episódio passado em França em Dezembro de 1914, durante a ocupação alemã. Este acontecimento foi mantido em segredo durante muitos anos e ficou conhecido como “as tréguas de Natal”. Este filme mostra-nos, como durante a noite da Consoada e o dia de Natal de 1914, os soldados franceses, alemães e escoceses, esqueceram as armas e a guerra e confraternizaram como se fossem grandes amigos. É uma grande lição de vida, quando soldados que se estavam a matar uns aos outros em nome de uma coisa absurda chamada guerra, esquecem as suas divergências e lado a lado vivem uma coisa muito maior que uma guerra, o espírito de Natal, o nascimento de Jesus. É um filme avassalador, que nos faz “abanar” de uma maneira que não se consegue explicar. De tal forma, que após a sua exibição, quando deveríamos falar sobre o que tínhamos visto e sentido, ninguém conseguia articular uma palavra! Estávamos todos psicologicamente “esmagados”, a tentar “digerir” os acontecimentos e demorou bastante tempo até alguém conseguir começar a exprimir o que estava a sentir. Foi poderosamente tocante a forma como o silêncio disse tudo!...

 

. Começando pela Casa onde se realizou, continuando no tema abordado (incluindo o formador) e acabando no enorme convívio que houve entre todos, vai ficar para sempre guardado no meu coração!

 


ORAÇÃO DA SERENIDADE

 

 

Gostei muito de todos os encontros da FEC, mas este foi muito especial

Para acabar, quero agradecer ao João, à Bela, à Milu e à Mina (meus queridos amigos LMC) que foram incansáveis, assegurando que tudo corresse da melhor maneira. Abdicaram do seu fim-de-semana para darem todo o apoio necessário a todos os que participámos neste encontro. Deixaram para segundo plano as suas necessidades pessoais (o merecido descanso após uma semana de trabalho) e estiveram presentes e sempre disponíveis em nome de algo maior, o ideal missionário. Muito obrigado do fundo do coração e que Deus ilumine sempre o vosso caminho.

 

Teologia Missionária e Diálogo Inter-religioso

Neste fim-de-semana participei em mais um encontro de formação da FEC. Realizou-se em Aveiro, na Casa das Irmãs Dominicanas Santa Catarina de Sena e o tema foi “Teologia Missionária e Diálogo Inter-religioso”. Não poderia ter sido um tema mais interessante e actual (exemplo disso foi a recente visita de Bento XVI à Turquia).
Dois conceitos fundamentais quando se está em Missão, são a Aculturação e a Inculturação. A Aculturação consiste em percebermos, respeitarmos e agirmos conforme a cultura, a tradição, as regras sociais do país em que estivermos. A Inculturação, nas palavras de João Paulo II “tem como finalidade encarnar o Evangelho nas diversas culturas, transmitindo-lhes os valores evangélicos, assumindo o que nelas existe de bom e renovando-as a partir de dentro”. Em relação ao diálogo inter-religioso, João Paulo II foi o grande impulsionador deste conceito. Os expoentes máximos deste objectivo fundamental da religião cristã, foram os encontros de Assis em 1986 e 2002, entre a Igreja católica e os representantes das outras religiões mundiais. Ali foi demonstrado que homens e mulheres religiosos, sem abandonarem as suas próprias tradições podem apesar disso comprometer-se a rezar e trabalhar pela paz e o bem da Humanidade.
O amor ao próximo, que o Cristianismo professa como a regra de ouro da conduta moral: “Tudo o que desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles, pois é nisto que consistem a Lei e os profetas” (Mt 7,12) faz também parte do património doutrinal das outras grandes religiões do Mundo. Eis as máximas (frases-chave) de seis dessas religiões:

Hinduísmo: “O ponto mais elevado do dever, consiste em não fazermos aos outros o que nos causaria sofrimento se nos fosse feito a nós”. (Mahabharata, 5.15.17)

Budismo: “Não firas o próximo, para que também tu não sejas ferido”. (Udanavarga, 5,18)

Confucionismo: “O grau mais excelso da benevolência amável (jiin), consiste em não fazermos aos outros aquilo que não gostaríamos que nos fizessem a nós mesmos”. (Anaclets [Rongo], 15,23)

Hebraísmo: “Não faças ao teu companheiro aquilo que para ti é odioso: nisto se resume toda a Lei; o resto é um seu comentário”. (Talmude, Shabbat, 31 a)

Islamismo: “Nenhum de vós é um crente, enquanto não amar o seu irmão como ama a si mesmo”. (As 42 Tradições de Na-Nawawi)

Religião Tradicional Africana: “Aquilo que deres (ou fizeres) ao próximo, será dado (ou feito) também a ti”. (Provérbio Ruandês)

“Vai meu irmão, minha irmã! Lá, em tua nova Missão, em tua nova terra, em tua nova pátria, anunciarás….” Leia todo o poema-reflexão de Dom Erwin Kräutler aqui



Álvaro Gomes

Ecos do Encontro de VMP

Este fim-de-semana representei os Leigos Combonianos no encontro da FEC em Fátima. O encontro realizou-se na “Casa de Francisco e Jacinta” que pertence aos Silenciosos Operários da Cruz. No sábado de manhã o tema foi “Motivações e Expectativas” orientado pelo Nuno Prazeres que esteve a dar aulas em Moçambique. Foi muito interessante, porque nos obrigou a reflectir e questionar quais as motivações que nos levaram a iniciar esta caminhada com o objectivo de partir em Missão. Será que sentimos um chamamento superior? Será que é uma fuga ao quotidiano? Será que prevaleceu o espírito aventureiro? Será que apenas queremos ajudar os mais desfavorecidos? E uma questão fundamental que à primeira vista até pode não parecer muito importante: queremos ir em Missão para ajudar quem mais precisa ou para nos fazer sentir bem, porque somos boas pessoas e vamos fazer uma coisa muito bonita? Estamos a pensar em NÓS ou nos OUTROS? Se é a primeira opção, então estamos no caminho errado e provavelmente a experiência missionária não correrá da melhor maneira... De seguida, o Nuno deu o testemunho e mostrou imagens da sua experiência missionária por terras de Moçambique. Da parte da tarde, a Sandra Lemos orientou um novo tema: “Desenvolvimento – que conceitos?”. E no fim da tarde ouvimos o testemunho da Teresa Eugénio que já fez voluntariado missionário em Moçambique, em Timor e na Índia. Foi um testemunho apaixonado e apaixonante, especialmente em relação à Índia! Depois do jantar, démos largas à nossa imaginação e o serão foi muito animado e o convívio espectacular! No Domingo de manhã, a Sandra orientou outra temática – “Trabalhar para o Desenvolvimento”, abrangendo tudo o que tem a ver com as várias fases de um Projecto, desde o planeamento, financiamento, execução, até à avaliação final. Depois trabalhámos em grupo e simulámos 2 projectos. Foi muito bom e a interacção dos vários grupos foi muito bem conseguida. De seguida o Padre Alfredo celebrou a Eucaristia onde foram enviadas 5 jovens (todas raparigas!?) que partirão no final deste mês e nos primeiros dias de Fevereiro para Moçambique. Depois do almoço, cada um de nós iniciou a viagem de regresso a casa. Sinto que saí mais rico depois deste encontro. Tanto em termos de conhecimento, como em termos de relações humanas. Conheci pessoas muito simpáticas, que espero rever no próximo encontro em Março em Aveiro, mas guardo com especial carinho, 3 das jovens que irão para Moçambique nos próximos dias (durante 6 meses), integradas num projecto das Dominicanas do Rosário em Maputo: a Diana, a Marisa e a Marta. Peço a todos os LMCs que rezem por elas para que consigam levar a bom porto a sua missão!...


Álvaro, LMC

Ecos da 1ª Sessão de Formação do Voluntariado Missionário

Os Leigos Missionários Combonianos participaram no programa de formação de Voluntariado Missionário que é destinado aqueles que vão partir para a Missão em 2006. A Vânia, Sandra e Susana estiveram lá. A Vânia partilha connosco como viveu esta primeira sessão de formação. Um muito obrigado a ela pela partilha.

 

 

 

 

Nos dias 26 e 27 de Novembro, reuniram-se, no Seminário do Verbo Divino, em Fátima, cerca de 35 voluntários disponíveis a partir em 2006, para a 1ª Sessão de Formação sobre o “Voluntariado e Projectos de Cooperação para o Desenvolvimento”.
No Sábado, após uma reflexão sobre as oportunidades e dilemas da cooperação para o desenvolvimento, a Dr.ª Leonor Gandra, Mestre em Estudos Africanos, apresentou diversas formas de envolver as comunidades a participarem na construção e realização dos projectos que os voluntários levam para as terras de missão. Aconselha os voluntários acima de tudo a conhecerem a realidade da comunidade em causa (cultura, economia local, etc). Por exemplo, se um projecto consiste em dar aulas de informática em Moçambique, por mais boa que seja a intenção do voluntário, o projecto nunca dará frutos porque não se está a ter em conta a realidade de Moçambique, pois em muitos locais não há luz, quanto mais computadores!!! Depois, apresentou também várias dinâmicas, técnicas e/ou ferramentas na fase do planeamento do projecto. Por exemplo: para que um centro de infância em S. Tomé e Príncipe venha a ser realmente utilizado, é necessário primeiro questionar os encarregados de educação para saber qual o interesse deles neste centro, saber o tempo disponível das crianças, e depois então perguntar às crianças o que gostariam de fazer nas horas vagas.
No Domingo, a Drª Sandra Lemos, mestranda em Desenvolvimento, Diversidades Locais e Desafios Mundiais, apresentou o tema “O Papel dos Voluntários na Cooperação para o Desenvolvimento”, do qual é importante reter a ideia que os voluntários não vão trabalhar para, mas com as pessoas! Muitas vezes os voluntários não conseguem resolver os problemas materiais das pessoas, então resta-lhes ajudar a potenciar as suas riquezas humanas, dar-lhes valor, estando com as pessoas e ouvindo-as!
Ainda sobre o último tema, convém distinguir 2 tipos de voluntariado: o Voluntariado de Apoio/Assistencialista e o Voluntariado para o Desenvolvimento. Enquanto que o primeiro surge em casos de emergência (catástrofes, guerras), criando dependência, na medida em que as pessoas não aprendem a fazer nada sozinhos; o segundo tipo de voluntariado consiste em ajudar as pessoas a tomarem conhecimento das suas capacidades e encorajá-las a po-las em prática, de modo a serem autosuficientes. Reflectindo sobre o provérbio “Em vez de dares um peixe a um faminto, dá-lhe uma cana e ensina-o a pescar”, podemos dizer que o Voluntariado Assistencialista é aquele que dá o peixe, enquanto que o Voluntariado para o Desenvolvimento dá a cana e ensina a pescar!
Deste modo, conclui-se nesta 1ª Sessão de Formação que o voluntariado não se deve fazer de ânimo leve! É verdade que há muito por fazer, mas deve-se fazer um trabalho bem feito. Para isso, o voluntário deve ter consciência do seu papel na Cooperação para o Desenvolvimento e como o realizar.